quarta-feira, 30 de dezembro de 2009
Avatar (Avatar)
“Avatar” é o tipo de filme que dá, garantidamente, o Óscar ao realizador (e sabe-se lá quantos mais à equipa). Nesta obra, como nas anteriores, James Cameron faz TUDO. Até o impensável, que é criar um planeta inteiro, com cultura, fauna, flora e até atmosfera próprias!
A história é muito interessante e, mais do que entretenimento, é uma forte mensagem anti-guerras corporativas e anti-arrogância do mundo ocidental. O ambiente criado convence em absoluto e consegue envolver a audiência por completo. Os actores são jovens que estão - quase, quase - a dar o salto para o mega-estrelato e, por isso, ainda obedecem cegamente aos caprichos do director (que sabe o que faz, diga-se!). Portanto, Avatar tem todos os ingredientes para ser um grande filme e é-o! Vai “papar” uma montanha lendária de Óscars, a julgar pela unanimidade das críticas! (Eu ainda tenho esperança de que, mesmo em confronto com “Avatar”, o “Inglorius Basterds”, de Tarantino, não seja esquecido, mas adiante...)
Cameron, todos sabemos, era a pessoa ideal para dar um chuto em frente no cinema 3D. O realizador – que apenas exige que o estúdio com que trabalha lhe dê o maior orçamento que tiver para atribuir no ano em questão - fez maravilhas quando realizou os “Terminators”, fez maravilhas quando realizou “Titanic” e volta a deslumbrar em “Avatar” com a mais nova tecnologia aplicada a cinema. Mas são precisamente as expectativas que funcionam contra ele…
Quem tem por hábito espreitar os “filmes 3D” que vão sendo anunciados por esse mundo fora, já deu por si a ver uns desenhos animados desenxabidos que de 3D só tem uns pormenorzecos, mas também já viu, por exemplo, o “Beowulf”, onde se conseguem sequências incríveis, com danças de objectos literalmente “em cima” da plateia (apesar da sua história ter pouco a louvar) e, portanto, quando entra na sala para ver “Avatar”, vai cheio de ideias loucas e com as expectativas no píncaros, acreditando que a profundidade dos objectos do filme de Cameron, o mago da tecnologia, lhe chegue “ao nariz”, ou seja, que os objectos “saltem do ecrã” e venham desafiar a plateia a agarrá-los e que a audiência consiga estar literalmente dentro do planeta Pandora!
…Mas isso raramente acontece neste filme. Os pormenores que vêm “parar às mãos” da audiência são poucos, esporádicos e pequenos. A profundidade existe e de forma nunca vista, mas, ainda assim, fica “dentro do ecrã”, há uma separação dos elementos em movimento e da plateia, um limite para a sua profundidade “fora” do ecrã. A coisa piora se virmos o filme legendado. As legendas pairam num plano qualquer entre as camadas de imagens (explicando de forma simplista: há objectos “antes e depois” do plano das legendas), como uma constante recordação do 2D, o que dificulta a absorção total do ambiente tridimensional criado. (Deve haver imensos termos técnicos para explicar tudo isto, mas eu não sou cientista e aposto que os pouco leitores deste blog preferem uma explicação não técnica da coisa…).
Há que dizer, no entanto, que, mesmo assim, Cameron consegue uma coisa incrível que é fazer um filme de duas horas e meia TOTALMENTE em 3D. Esqueçam os pormenorzecos. Este filme é TODO em 3D. Os objectos, as plantas, as multidões, TUDO tem uma profundidade nunca vista. Nuns momentos mais do que noutros, o público abre a boca de espanto com tamanha novidade. Mas não chega para nos sentirmos “dentro” de Pandora, embora tenha sido isso que nos prometeram durante a promoção do filme… É injusto, talvez, exigir mais do que o que a maravilha já conseguida – há um orçamento, há um limite de tempo, as escolhas têm de ser feitas com sensatez -, mas a verdade é que, sim, esperava um pouquinho – pequenino – mais, apenas porque se trata de James Cameron.
Mas a coisa não vai ficar por aqui. O realizador já está a preparar mais filmes em 3D e estou confiante de que será ele a levar-nos “para dentro” de outros planetas cinematográficos. Espero que entretanto se cumpram todas as expectativas relativa ao visionamento dos filmes 3D, incluindo (e este é uma espécie de pedido pessoal que aproveito para expressar aqui) a evolução para a não utilização daqueles óculos especiais horrorosos e que fazem dores de cabeça! Já em 2005, Spielberg prometia o registo de uma patente de uma técnica inovadora de visualização 3D baseada em ecrãs de plasma e sem necessidade de óculos especiais, em que um computador divide cada frame de filme e o projecta de ângulos diferentes para que seja capturado por pequenas ranhuras angulosas no ecrã. Claro que dotar os cinemas com mais este equipamento deverá demorar o suficiente para eu levar os meus netos às salas… Mas a esperança é sempre a última a morrer…
Mesmo assumindo que o principal interesse da obra é a evolução conseguida no 3D, “Avatar” é, nevertheless, um filmezão, que tem obrigatoriamente de ser visto por quem gosta de cinema!
Classificação:
****
segunda-feira, 28 de dezembro de 2009
Sherlock Holmes (Sherlock Holmes)
Com potencial para se transformar em franchising ( a sequela está em desenvolvimento de acordo com o IMDbPro), o Sherlock Holmes de Guy Richie é brilhantemente explorado pelo fabuloso Robert Downey Jr. Apesar de ser um blockbuster digno de tal nome, o melhor do filme é, sem dúvida, a renovada personagem e a interpretação que Downey lhe dá. Que o homem é um dos actores mais talentosos da sua geração, já sabíamos (pena que se perdeu durante uns anos nos caminhos tortuosos das drogas, tendo sido um dos poucos habitantes famosos de Hollywood a pagar por isso com sentença de prisão, mas adiante…), o que não esperávamos (ou pelo menos, EU não esperava) era que ele se deixasse seduzir por filmes mais comerciais e, ao fazê-lo, conseguisse transformar personagens mais ou menos lineares e pouco desafiantes em figuras densas e com várias “camadas” de emoções.
Fê-lo no “Homem de Ferro” e consegue fazê-lo no filme espectáculo de Guy Richie. Está, talvez, na altura de lhe darem um papel em que consiga ganhar um Óscar, já que, com “Chaplin” (1992), ficou-se pela nomeação. Holmes não chega para isso. Não tanto pela falta de densidade da personagem ou pela falta de empenho do actor (o filme tem das duas de sobra!), mas porque é um “herói de acção” e a Academia prefere oscarizar personagens biográficas, loucas ou esquizofrénicas. E, por isso, temos pena. O Holmes de Downey foi das melhores interpretações do ano! Merece, por isso, a nomeação para um Globo de Ouro na categoria de Melhor Actor Principal em Filme de Comédia ou Musical.
Sim, o Sherlock Holmes de Guy Richie é um “herói de acção”, em vez do gentlemen inglês sisudo que pode ter tido sucesso noutras épocas, mas que, nos anos 2000, em que o destaque vai para o individualismo e o exacerbar das características pessoais, seria olhado de lado e com a benevolência do respeito pelo “clássico”! Os blockbusters fazem-se com personagens irreverentes e não com “respeito”, por isso, Richie e a sua equipa de escritores (são cinco, sem contar com Sir Arthur Conan Doyle, autor da personagem), foi aos arquivos encontrar as características mais recônditas de Holmes e conseguiu – jurando que se manteve fiel à descrição da personagem nos primeiros livros de Sir Conan Doyle – encontrar um perfil sexy, dinâmico e exuberante, condizente com os heróis de acção dos dias de hoje. A única verdadeira liberdade criativa – dizem os criadores do lifting de Holmes – foi no rejuvenescimento de Watson, que se transformou num jovem apaixonado que atura o desmazelado detective apenas por este trazer aventura à sua vida.
Watson rejuvenesceu com o objectivo de dar mais dinamismo à fita e à figura principal do filme e encarnou no sex symbol Jude Law, que apesar de ter um talento discutível, deixa-se aqui contagiar pelo génio de Bob Downey e dá ao herói o que ele precisa: um side kick perfeito, aquele que é adjuvante da acção sem ensombrar o génio da personagem principal.
O conjunto é um filme dinâmico e luminoso, com personagens marcantes e sempre com o ritmo em crescendo, o que o torna um sério candidato a transformar-se numa série de filmes ao estilo Bond, com Holmes a explorar o glamour e as belas mulheres da fascinante Londres do séc. XIX.
Rachel McAdams e Mark Strong merecem uma última nota. Intensos, sem se transformarem em caricaturas, são dois actores a ter em atenção para futuros papéis, talvez mais exigentes.
Classificação:
****
terça-feira, 22 de dezembro de 2009
New York, I Love You (New York, I Love You)
Depois de “Paris, Je T’Aime”, de 2006, é agora em Nova Iorque que um conjunto de realizadores procura o amor num filme em mosaico. Em 103 minutos, desfilam à frente dos olhos do espectador 11 pequenas histórias de realizadores com currículos tão díspares como Fatih Akin, Yvan Attal, Allen Hughes, Shunji Iwai, Wen Jiang, Joshua Marston, Mira Nair, Brett Ratner, Randall Balsmeyer, Shekhar Kapur e Natalie Portman.
Anthony Minghella era um dos realizadores convidados (chegou a escrever a sua pequena história), no entanto, não chegou a filmar o seu guião (faleceu a 18 de Março de 2008) tendo sido substituído por Shekhar Kapur.
Diz-se também que Scarlett Johansson teve, neste filme, a sua primeira experiência como realizadora. No entanto, a sua pequena história (cujo protagonista era Kevin Bacon) ficou fora na montagem final do filme. Todos asseguram que a opção de não incluir a história da actriz nada teve a ver com a qualidade do seu pequeno filme e sim com o facto de ele ser a preto e branco e ter muito poucos diálogo e relações interpessoais, ou seja, por não fazer sentido no contexto do filme.
Ora... No meio de toda aquela miscelânea de histórias sobre o amor em Nova Iorque fica a sensação de que de longa-metragem tem pouco. Umas histórias interligam-se, outras não. O ritmo não é em crescendo, é ao calhas! Não existe qualquer fio condutor linear entre os 11 exercícios. Algumas histórias surgem de uma só vez, outras são esquartejadas. Enfim… Acaba por parecer uma tentativa frustrada de obra-prima intelectualóide, sem nunca chegar a encher as medidas a ninguém. Gostava de um dia poder ver as 11 histórias no YouTube, cada uma por si. Aí, sim, poderia verdadeiramente aprecia-las todas!
Se tiver de escolher favoritos, voto nos segmentos de Bret Retner, Allen Hughes e Yvan Attal. Tentem identificá-los, se conseguirem!
Classificação:
***
Golden Globes 2010
A lista de nomeados pode ser consultada aqui:
http://www.goldenglobes.org/nominations.
sexta-feira, 18 de dezembro de 2009
Uma Aventura na Casa Assombrada (Uma Aventura na Casa Assombrada)
Depois de uma sessão bem animada de cinema com uma multidão de gente muito jovem a assistir ao filme, concluo que os "putos" hoje já não engolem qualquer coisa. Em relação à história não há muito a fazer, é o que é, e foi escrita para outra geração de jovens que já não existe. O "Espírito do Mundo", um diamante vermelho com poderes sobrenaturais, roubado cinco séculos antes das mãos do último imperador azteca, é o centro desta aventura numa casa amaldiçoada nos confins da serra de Sintra. A herdeira da casa, Filipa, suscita a ajuda dos nossos heróis em busca da pedra preciosa, mas há inúmeros obstáculos a ultrapassar. Enfrentando fantasmas de guerreiros índios, estátuas que ganham vida, morcegos, alçapões, passagens secretas e um temível assassino alemão em busca de vingança, os nossos heróis terão de reunir todas as suas forças e perspicácia para chegar ao mítico diamante antes que seja tarde demais.
O "Pedro" empinou o texto e mais parecia que estava a ler o google. Esperava mais destes jovens que parecendo que não, já levam uns "kilómetros" de séries na bagagem. Podia até, pelos efeitos especiais, deslumbrar outro tipo de público mas nem isso o filme conseguiu. Resta esperar que esta geração de jovens actores continue a trabalhar com dedicação e talvez um dia poderão estar à altura de um desafio destes. Ainda assim, toda a filmagem é rudimentar e pouco arrojada em planos, perdendo-se um pouco da acção e retirando ritmo ao filme o que em nada ajudou estes "actores".
Classificação:
*
Playboy Americano (Spread)
A sinopse é bem divertida e quase não leva a perguntar o porquê de ser um para maiores de 16, no entanto a resposta vem pronta e com poucas palavras e muita exposição. Por momentos pensei estar num cinema rasca e decrépito num bairro degradado mas não, era mesmo distribuído pela Lusomndo... A sinopse vende bem aquilo que acaba por não ser, uma comédia romântica... "Comédia romântica sobre um playboy que arranja esquemas com mulheres ricas e mais velhas para lhes sacar dinheiro, mas apaixona-se por uma empregada de mesa e deixa a senhora que andava a trabalhar, mas a empregada de mesa também têm o seu próprio esquema." De romântico tem pouco e de comédia 0.
Classificação:
**
quinta-feira, 10 de dezembro de 2009
Terapia para casais (Couples Retreat)
A designação de “comédia romântica” pode pesar sob um filme. Se há os que as devoram, também há os que as abominam, acreditando que nenhuma obra catalogada de “comédia romântica” pode ensinar o que quer que seja. Eu sou daquelas pessoas que, não havendo nada que me chame à atenção no cartaz daquele dia, encolhe os ombros e compra bilhete para uma comédia romântica, ciente de que o objectivo dos autores é mais entreter do que instruir ou fazer arte. E cinema também é isso…
No entanto, é quando se vê um filme como “Terapia para Casais” que se percebe que não é muito justo, por vezes, colocar no mesmo “saco” um filme como, por exemplo, “A Proposta” (http://popcornparadise.blogspot.com/2009/08/proposta-proposal.html) e este, já que o primeiro fica beneficiado com o epíteto e o segundo prejudicado…
“Terapia para Casais” é, efectivamente, uma “comédia romântica”. Senão vejamos: tem comédia e tem romance. Mas faz um pouquito mais do que entreter…
Diz a sinopse no site da Lusomundo: “Uma comédia romântica que acompanha quatro casais do Midwest numa viagem com destino a um resort numa ilha tropical. Enquanto um dos casais está lá para tentar salvar o seu casamento, os outros três fazem jet ski, frequentam o spa e tomam banhos de sol. Mas depressa descobrem que a participação nas sessões de terapia de casal não é opcional… e as suas férias ganham subitamente nova dimensão.” Nem mais.
Neste filme exploram-se quatro casamento em velocidade cruzeiro, com todos os seus problemas trazidos à luz do dia. São quatro tipos de relação diferentes e, logo, quatro tipos de problemas diferentes. Serão quatro possíveis divórcios?
Quem sobrevive? O casal que tenta, mas não consegue ter filhos e tem de lidar com o desgaste dessa situação? O casal que teve filhos cedo demais? O casal que trabalha muito e comunica cada vez menos? Ou aquele em que um dos membros já desistiu?
São quatro situações estereotipadas que levam a plateia a pensar um pouco nas suas próprias vidas… Levante a mão quem está numa relação duradoura e não se questiona, por vezes, sobre se está tudo bem ou se simplesmente se acomodou...
O guião é consistente, com pormenores muito bem conseguidos e engraçados. Os actores são eficazes e convincentes. Os cenários são, como diz uma personagem, “um screen saver”! Em suma, tem tudo o que uma boa comédia romântica deve ter: situações que fazem rir… e pensar…
Classificação:
***
quinta-feira, 3 de dezembro de 2009
Capitalismo: Uma História de Amor (Capitalism: A Love Story)
“Quando eu era pequeno, lembro-me que o meu pai trabalhava na General Motors, pagou a casa em que vivíamos antes de eu ir para o infantário, fazia 4 semanas de férias pagas por ano e, ano sim, ano não, passávamos o Verão em Nova Iorque. Se aquilo era o capitalismo, eu adorava-o.” E entretanto tudo mudou. Os salários baixaram. As pessoas viram-se obrigadas a trabalhar o dobro para compensar os funcionários que os patrões não contratavam. O desemprego aumentou. E alguém encorajou o povo americano a pedir dinheiro emprestado para fazer face a tudo o que não podiam pagar. Até que tudo se desmoronou.
Michael Moore, no seu inconfundível estilo provocatório, manipulador e cheio de conspirações, explora de forma hábil os motivos que levaram à crise do capitalismo na América. Desde a época de Reagen até à eleição de Obama, o cineasta esmiúça acções e decisões de políticos e seus conselheiros, os lucros das grandes empresas e alguns casos emblemáticos em que o povo foi esmagado pela América corporativa (como o caso chocante dos pilotos de aviões que ganham menos ao ano do que um funcionário do MacDonald’s!!!), construindo uma história simplista, de heróis e vilões, em que não faltam temas de reflexão. Um assunto que podia ser complexo e incompreensível, torna-se fácil de acompanhar e – se o espectador estiver ciente de que está a ver um filme de Moore - permite até decidir sobre a sua concordância ou não com as conclusões do realizador. Embora não seja fácil não ver as coisas como Moore as apresenta, já que a manipulação e as cenas sensacionalistas e infrutíferas (como ir com um carro blindado a Wall Street pedir o “dinheiro dos contribuintes americanos de volta” ou envolver a dita na famosa fita amarela “Crime Scene Do Not Cross”) são uma constante nos seus filmes.
Perdoado o estilo próprio, há que admitir que Moore consegue colocar nas bocas do mundo todos os temas em que toca e consegue levar “o povo” a pensar seriamente sobre eles. Este filme é mais um exemplo acabado disso mesmo. E embora não seja uma obra prima (talvez porque já nos tenhamos cansado um pouco do sensacionalismo de Moore ou porque, narrativamente, o documentário não apresenta nenhuma inovação), tem o mérito de explorar um assunto que há muito merece ser discutido… ou não andemos todos a tentar imitar o modelo de vida americano (agora decadente).
“Nós aguentámos tudo isto porque nos acenavam com a cenoura à frente dos olhos: um dia será tu a vencer.” Mas à medida que o fosso entre os ricos e os pobres ia aumentando, a crença nesta promessa ia desaparecendo. Até que o povo se revoltou: elegeu Obama (um socialista?). O povo percebeu que tinha poder e nada será como dantes. A conclusão do cineasta é que acredita na democracia: recusa-se a viver num país como aquele, mas não se irá embora...
Classificação:
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domingo, 29 de novembro de 2009
Julie e Julia (Julie and Julia)
Antes de Ina, antes de Rachael, antes de Emeril, existia Julia, a mulher que mudou para sempre a maneira de cozinhar da América. Mas em 1948, Julia Child era somente uma mulher americana que vivia em França. O trabalho do seu marido levou-a a Paris, e com o seu espírito incansável, Julia tinha um enorme desejo de fazer algo. Quinze anos depois, Julie Powell está estagnada. Perto dos 30, a viver em Queens e a trabalhar num cúbiculo, enquanto as suas amigas alcançam carreiras de sucesso, Julie procura um projecto para focalizar as suas energias. Decide assim passar exactamente um ano a cozinhar as 524 receitas do livro de Julia Child - "Mastering the Art of French Cooking" - e cria um blog onde relata as suas experiências.
Interessante verificar que a própria blogosfera já tem a sua própria história. Não posso deixar de assinalar a perplexidade estampada nos olhos dos que verificavam que havia gente que li e vivia aquilo que escreviamos nos blogs, incluindo a própria mãe... Que inocentes que eles eram ou nós...
As interpretações de Meryl Streep e Amy Adams - que já o ano passado arrasaram com "A Dúvida" (ver crítiva neste blog) - são refrescantes e bem humuradas. Meryl Streep com a função de nos relembrar a cozinheira/apresentadora Julia Child e Amy Adams a retratar uma jovem de 30 anos que tenta romper com a monotonia e com as suas dúvidas existenciais. Será que é desta que há Óscar?
Classificação:
****
O Solista (The Solist)
Esta é uma história verídica das ruas de LA e que foi amplamente divulgada recentemente pelo programa "60 minutes". A sinopse é forte e exemplo raro de humanismo, talento. Quando o jornalista Steve Lopez vê Nathanlel Ayers a tocar de forma tão sentida o seu violino de duas cordas no Skid Row de Los Angeles, fica estupefacto. A princípio, é atraído pela oportunidade de fazer dele o tema de mais uma das suas colunas para o Los Angeles Times, mas o que descobre sobre o misterioso músico das ruas deixa-o fascinado. Há trinta anos, Ayers tinha sido um promissor aluno de contrabaixo da Juilliard School até que foi vencido por um esgotamento mental. Quando Lopez o encontra, Ayers está sozinho, profundamente perturbado e desconfia de toda a gente, mas ainda é possível vislumbrar nele resquícios desse brilho. Os dois homens aprendem a comunicar através da música. A sua amizade vai passar por momentos dolorosos, pois Lopez imagina-se capaz de convencer Ayers a abandonar as ruas de Los Angeles. Aos momentos de triunfo segue-se sempre uma desilusão, mas nenhum dos dois desiste. E, embora a intenção inicial de Lopez seja salvar Ayers, acaba por constatar que a sua própria vida mudou profundamente.
Ficou talvez por mostrar a relação que Ayers estabelecia também com o Maestro da orquestra de LA (na altura Esa-Pekka Salonen, substituído recentemente pelo jovem talentoso Gustavo Dudamel um dos responsáveis por El- sistema na Venezuela). Também o facto de Ayers tocar e ser acompanhado musicalmente por vários músicos da orquestra poderia ser mais focado e como sendo uma experiencia que agora é bem mais positiva em relação à fobia que tinha do palco quando regressou ao activo.
Jamie Foxx esteve imparável e poderá estar na lista dos nomeados dos Óscares para melhor actor principal. Robert Downey Jr. não desilude e guia toda a acção desta personagem que é rara nos dias de hoje.
O filme teve também a capacidade de me pôr a ouvir (mais uma vez) a Heróica de Beethoven durante uma semana. Esta é a 3ª Sinfonia de Beethoven dedicada ao Napoleão Bonaparte. No entanto, essa dedicatória seria apagada pelo próprio compositor quando Bonaparte partiu à conquista da Europa.
Classificação:
****
Futebol de Causas.
Foi apresentado na 3ª Mostra Internacional de Cinema em LínguaPortuguesa "Mostra Língua" o presente documentário sobre a Briosa. Ricardo Martins presenteou-nos com uma lição de academismo com um tremendo documento explicativo sobre o verdadeiro início do 25 de Abril. Assim, o documentário reflecte todo um conjunto de situações que levaram a que o jogo da final da Taça de Portugal em 69 se tornasse num dos maiores comícios anti Estado Novo (5 anos antes 25 de Abril). A revolta iniciada pelos estudantes na inauguração do Departamento das Matemáticas foi mais além através de uma equipa de bravos e lendários jogadores que, apesar de serem estudantes, mostravam em campo todo o brio e vontade de vencer.
Classificação:
terça-feira, 24 de novembro de 2009
When We were Beautiful
Estreou em Abril no Tribeca Film Festival 2009 e, depois de algumas exibições televisivas em canais americanos, foi distribuído em todo o mundo através da edição deluxe do 11.º álbum de originais dos Bon Jovi, “The Circle”. “When We Were Beautiful”, de Phil Griffin, conta a conturbada história da banda de New Jersey, pela primeira vez com a autorização dos protagonistas.
Depois de realizar “Donny Osmond: Live at Edindurgh Castle” e “Britney: For The Record” e de fotografar a intimidade das estrelas inúmeras vezes, Phil Griffin, passou de fotógrafo contratado para acompanhar a banda na digressão mais rentável do ano 2008 - a “Lost Highway Tour”, que teve um interregno quando a banda visitou Lisboa para actuar no festival Rock in Rio – a documentarista depois de um convite de Jon Bon Jovi e apenas – diz ele - porque este lhe garantiu que podia ser tão honesto no filme como estava a ser nas fotografias. O resultado são cerca de 90 minutos de filme a preto e branco - uma opção artística do realizador que enfatiza a seriedade da obra - onde se apresenta uma banda de senhores crescidos, metódicos e profissionais, mais do que um grupo de miúdos de 40 anos que tira prazer da música.
Para os fãs da banda não será novidade o facto de Jon Bon Jovi se auto-intitular “o CEO de uma companhia que tem gerido uma marca ao longo de 25 anos”. Mas há outras expressões e revelações emblemáticas.
Jon diz que quer “esgotar o deserto e mais do que uma vez” e que “o dia em que a mulher do baixista lhe diz quando é que pode fazer uma digressão nunca vai chegar…”. Richie Sambora, o guitarrista, fala do seu passado recente (que incluiu um internamento numa clínica de reabilitação) e a explica que o seu único objectivo é fazer o Jon feliz. Tico Torres, o baterista, assume o seu passado ligado ao álcool e mostra-se mudado e amante de arte. David Bryan, o teclista, admite não estar totalmente feliz com a liderança absoluta de Jon na banda e revela a sua felicidade por ser bem sucedido a escrever musicais, um projecto próprio.
Ao público em geral, além do fascínio pelo voyeurismo da intimidade de quatro das maiores estrelas da música internacional, interessa, talvez, perceber a dimensão do negócio da marca Bon Jovi. E se, como documentário, a obra é banal - baseando-se em entrevistas pessoais e recolha de imagens ao vivo, com algumas relíquias do passado à mistura –,para quem gosta de música ela serve como “documento histórico”: um retrato completíssimo sobre a vida, evolução e filosofia de – quer se queira, quer não - uma das mais bem sucedidas bandas do mundo.
Classificação:
****
segunda-feira, 23 de novembro de 2009
Os Irmãos Bloom (The Brothers Bloom)
“Aventura / Comédia” é o “rótulo” do filme. A sinopse divulgada no site da Lusomundo é deslavada e errónea. O cartaz é leve, antiquado e pouco marcante. O realizador conta no currículo com apenas outros dois filmes pouco badalados… Não fossem os nomes de Adrien Brody (“O Pianista”), Rachel Weisz (“O Fiel jardineiro”) e Mark Ruffalo (“Ensaio sobre a Cegueira”) no elenco, este filme teria passado completamente despercebido do grande público.
E seria uma pena.
São 113 deliciosos minutos de cinema. É a “pedrada no charco” de um ano cinematográfico que prometia muito e deu muito pouco.
Os Bloom - Adrien Brody e Mark Ruffalo – são dois irmãos que, de lar de acolhimento em lar de acolhimento, foram aprendendo a depender apenas um do outro e encontraram uma vocação peculiar: são os melhores burlões do mundo. Penelope (Rachel Weisz) é uma jovem riquíssima e inadaptada socialmente que vai ser alvo da última burla dos dois irmãos. Mas nem tudo corre como planeado…
O guião é quase perfeito e cheio de informação visual que, muitas vezes, supera – em dados sobre as personagens e em espectacularidade - a que passa nos diálogos. Ficou a faltar, talvez, a explanação de uma conversa entre Penelope e a polícia polaca, que deixa o espectador na dúvida sobre qual a intenção do autor.
Os actores são absolutamente fabulosos e irrepreensíveis, ou não fossem dois deles vencedores de Óscares (Rachel Weisz por “O Fiel jardineiro” e Adrien Brody por “O Pianista”) e outro já nomeado para um prémio por esta actuação (Mark Ruffalo foi nomeado em 2008 como “Best Actor in a Motion Picture, Comedy or Musical” para um Satellite Award). E a extraordinária Rinko Kikuchi! Quase sem currículo em Hollywood, ela foi nomeada para um Óscar de “Best Performance by an Actress in a Supporting Role” em “Babel”. Aqui surge quase muda, mas inesquecível no papel de Bang Bang, a bombista e perita em efeitos especiais dos irmãos Bloom! As bizarras aparições de Bang Bang são o melhor do filme, só encontrando rival nas desgrenhadas (mas lindas) cenas de Rachel Wiesz.
Tudo, neste filme, é diferente da onda de cinema que invade as salas da Lusomundo todos os dias, a começar na beleza pouco estereotipada das duas fantásticas mulheres e a terminar no conjunto vasto de pequenos pormenores que enriquecem a cena e que obrigam o espectador a estar atento a todas as nuances de linguagem e às acções não declaradas das personagens.
A acção vai New Jersey a Praga (maravilhosa Praga!) e de Praga ao México, sem que o espectador consiga datar acessórios ou personagens. As roupas são clássicas. Os cenários actuais. Os carros vão do clássico ao actual. A mistura é caótica, explosiva e resulta fenomenalmente, exceptuando o look de pirata de Maximilian Schel (outro Óscar winner!) no papel de malandro russo.
O ideal seria ver este filme umas duas ou três vezes para ter a certeza que estava tudo visto e absorvido, já que há inúmeros pequenos pormenores acessórios que merecem ser decifrados com carinho e que tornam a obra inesquecível. Com todas as suas (pequenas) falhas, este não deixa de ser um filme com F (muito) grande.
Classificação:
*****
sexta-feira, 20 de novembro de 2009
2012 (2012)
Sala cheia. Pipocas no corredores logo no início da sessão. O zumbido permanente de cerca de 300 pessoas expectantes. Nem um lugar vazio. Não havia grandes dúvidas de que eu ia ver um blockbuster…
Fora exactamente o constante sinal de “Esgotado” que me fez querer ver aquele filme. Afinal, qual é o apelo que o público tem por cinema catástrofe?
…A pergunta permanece…
Roland Emmerich só dirige blockbusters - “10 000 BC”, “The Day After tomorrow”, “The Patriot”, “Godzilla”, “Independence Day”, “Stargate”, etc., etc., etc. E até agora, até tinha conseguido encontrar um equilíbrio entre os elementos do cinema espectáculo e os necessários à realização de boa história... Mas desta vez falhou redondamente e em quase tudo.
A audiência, que devia ficar suspensa nas cenas mais dramática, ri-se delas. Não há paciência para tantos clichés. Tentar impingir cenas em que um bimotor, pilotado por uma pessoa inexperiente, atravessa as ruínas de um prédio a cair e sai ileso, trazendo lá dentro as únicas pessoas que sobrevivem a uma Los Angeles transformada em Inferno e que sobreviverão ainda a quase tudo o que o espectador puder imaginar de destrutivo… é demais. Essa fase acabou nas séries de super-heróis de – sei lá! - 1985 e, mesmo nessa altura, não era nada a que se colocasse um “selo de qualidade”…
O público foi absolutamente menosprezado, os actores sacrificados, todo o pessoal que esteve dentro da sala de montagem devia ser fuzilado e o guionista devia ter vergonha de assinar tal “coisa”. É que esforçaram-se MESMO para fazer um filme MAU!
Ainda gostava de saber como é que “aquilo” passou nos screening tests. Seriam adolescentes de 13 anos a dar pontuação? É que nem esses – crédulos, simpáticos, ávidos de emoções - deixaram de sorrir naquela sala escura!
Se fosse a pontuação para o pior filme do ano, eu daria DEZ estrelas a “isto”. Como não é, leva uma estrelita, pelo esforço dos actores (destaque para o louco de Woody Harrelson: talvez por ser louca foi a única personagem credível!) e porque seguramente houve quem - desgraçado - trabalhasse que se desunhasse para fazer aquela - tenho de o dizer! - bela bosta!
Classificação:
*
segunda-feira, 9 de novembro de 2009
Pare, Escute, Olhe (Pare, Escute, Olhe)
Era com grande expectativa que eu aguardava o segundo filme de Jorge Pelicano. Vi “Ainda Há Pastores?” e, como o realizador (camaraman da SIC), apercebi-me de que há mais histórias no designado “Portugal profundo” que valem a pena ser exploradas (no bom sentido, claro!). Nesse filme, o autor soube tão bem revelar a vida dos pastores da Serra da Estrela, com o respeito e a ternura que se impunham, mas sem por isso deixar de mostrar com crueza da realidade, que eu contava os minutos para ver a sua nova obra.
Perdida a oportunidade de ver o filme no “Doc Lisboa”, esfreguei as mãos de contente quando ele viajou até Coimbra para o “MostraLingua2009” (http://www.mostralingua.org/) e lá fui.
A delicadeza continua. O vício de colocar “as personagens” (que são reais, sempre gente humilde) a contar a sua história sem filtro também. Não há paternalismos, nem desculpas, nem expectativas. É tudo cru. Como na obra anterior não há narrador, nem explicações, nem ninguém que ajude o espectador a seguir a linha de raciocínio do autor. E essa é a melhor parte, porque o público estabelece de imediato uma relação com os intervenientes e segue-os, espera-os, ouve-os. Decide por si quais são as características de uns e de outros e o que pode esperar deles. E, no fim, a ternura por aquelas “personagens” fica colada à pele.
Nesta obra, a Linha do Tua funciona como protagonista. (E quem quer ver um filme sobre a Linha do Tua, perguntará o público dos cinemas Lusomundo? E a minha resposta é: Experimentem! Experimentem e depois conversamos…) Entre Bragança e Foz Tua, o filme mostra duas realidades distintas da linha: o troço desactivado o e o troço activo. No primeiro, os comboios já não circulam e os autocarros que os vieram substituir há muito que desapareceram. As aldeias ficaram sem um único transporte público, isoladas. No troço activo, o anúncio da construção de uma barragem no Foz Tua, encaixada num património natural e ambiental único, ameaça o que resta da centenária linha.
O que começa como uma visão profunda da realidade em que vive aquela população (gente envelhecida, cujos filhos e netos há muito optaram, na maioria dos casos, por partir para o estrangeiro), transforma-se, à medida que o filme a avança, numa opção clara do autor pela defesa da linha. Os argumentos pró e contra são apresentados com igual direito de antena, mas, de alguma forma, uns são deitados por terra (por comparações com o estrangeiro ou contradições de palavras de políticos), outros recolhem apoios em imagens e depoimentos sentidos.
Talvez por defeito profissional (por ter sido jornalista), tenho de admitir que me chateia ver documentários em que me tentam manipular. Mas sei que os que são supostamente isentos estão em vias de extinção e imagino que vou ter de me habituar aos outros... Desconfio até que, na época em que vivemos (política, económica, global), começam a ser necessárias as vozes que explicam ao público quais as soluções disponíveis e por qual delas optar, já que, cada vez mais, vivemos num mundo de alienados e as causas têm - também elas - de estar pré-fabricadas.
A Linha do Tua é uma causa digna. Neste caso, provavelmente, nem era necessária essa “manipulação”. A opção pela defesa do património natural já começa a ter mais adeptos do que a desculpa do progresso para destruir rios e montanhas, quintas e vidas...
Seja como for, o Jorge Pelicano convenceu-me. Mas mais do que me convencer (a mim ou qualquer outra pessoa) a apoiar uma causa, tem o mérito inigualável de ter dado voz a quem não a tem, de ter mostrado um património extraordinário e desconhecido de muitos portugueses e de ter feito justiça ao lutar por quem já está cansado de ser saco de pancada. Talvez seja disso “que o país precisa”...
Em última análise, os ingrediente que me fizeram cair de amores pela primeira obra deste realizador mantêm-se na actual. E, com causas ou sem elas, a expectativa para continuar a ver filmes do mesmo autor permaneceu.
Os meus sinceros parabéns a toda a equipa que dedicou o seu tempo a dar voz às gentes do Tua.
Classificação:
****
quinta-feira, 5 de novembro de 2009
Michael Jackson’s This Is It
Claro que podemos criticar a ousadia da Columbia Pictures ou da AEG Live por nos tentar enganar com a história do “for two weeks only” e depois esticarem a apresentação por mais uma semana devido “ao sucesso do filme”. Também podemos argumentar que estamos fartos “de levar” com o mito Michael Jackson e pedir aos céus que TODA a gente decida simplesmente deixá-lo descansar em Paz. E até sabemos que existe, de facto, muito respeito pelo trabalho do artista, mas que o que todos procuram agora é ganhar o seu quinhão com a memória dele… Mas o que podíamos fazer? Ignorar o filme…?
Claro que não! Fomos vê-lo. …E ainda bem.
Conclusão número 1 de quem não era fã: Não, Michael Jackson não era um ser doente e debilitado na altura da sua morte! Nem por sombras!!!
Conclusão número 2 de quem não era fã: Aquilo que está nos álbuns ou nos registos ao vivo é MJ em estado puro, sem grandes produções, escamoteações ou operações de estética. Ele era daqueles artistas que já não se fabricam: autêntico! E nem a espectacularidade de fatos ou cenários altera isso.
Conclusão número 3 de quem não era fã: O homem era um Artista com A grande. Cada acorde, cada passo de dança, cada respiração de um show tinha o seu cunho pessoal e a sua preocupação suprema era dar aos fãs aquilo que esperavam, sim!, mas, se possível, também o melhor espectáculo do mundo. TUDO o Jackson fazia, do que vestia ao que dizia, tinha a preocupação suprema de: fazer arte, agradar aos fãs ou passar uma mensagem positiva.
Em 100 minutos, número a número, através de uma montagem exímia que une ensaios a resultados finais de sequências multimédia criadas especificamente para aquele propósito, a assistência vê o espectáculo desenhado para ser oferecido aos fãs nas 50 datas agendadas para a O2 de Londres no Verão passado. E teria sido um espectáculo absolutamente soberbo, tal como MJ era um artista soberbo!
A partir do momento em que a morte democratizou o seu reportório e mitigou os fait divers que distraíam o público do que verdadeiramente interessava - a obra -, ser ou não fã de Jackson deixou de estar em causa. Goste-se ou não, há que admitir que o homem era um daqueles raros seres iluminados pelo talento que, ao mexer músculos ou cordas vocais de forma natural, largava pelo mundo pérolas e mais pérolas…
Não o sabia antes - ou melhor, nem tinha qualquer preocupação em sabê-lo - mas depois de milhares de horas de documentários e notícias de TV até eu me rendi ao talento de Michael Jackson, contrariando os mais ferozes críticos que, seguramente, não sabiam lidar com quem é inimitável ou cujo nível de talento dificilmente é atingível. E depois de 100 minutos de ensaios, passos, notas, sugestões e conversas, sem conseguir tirar os olhos do ecrã por um segundo que fosse, saí do cinema com uma certeza: o que eu não teria dado agora para ser uma mosquinha na O2 no Verão passado, não tivesse a tragédia roubado o Peter Pan prematuramente do mundo dos vivos…
Classificação:
*****
terça-feira, 27 de outubro de 2009
Sem Provas (Cleaner)
Se alguém morre em nossa casa, a polícia encarrega-se de recolher o corpo. Mas o que poucos sabem é que fica por nossa conta a limpeza do local. Como muitos não têm estômago para este género de trabalho, ligam para Tom Cutler (Samuel L. Jackson). Tom é o que se pode chamar um "Limpa-Provas", o homem que elimina qualquer traço de sangue, cheiro, manchas. Quando Tom recebe indicação para limpar a cena de um crime brutal num bairro da alta sociedade depressa se apercebe que o crime nunca foi reportado à polícia e que apagou todo e qualquer rasto do que efectivamente aconteceu. A mulher que vive na casa, Ann Norcut (Eva Mendes), não sabe da ocorrência de nenhum crime na sua casa, sabe apenas que o seu marido desapareceu. E pede encarecidamente a Tom para o encontrar...
São 89 minutos de bom entretenimento, com actores que não têm aqui o papel das suas vidas, mas que fazem o suficiente para tornar a história interessante. Eva Mendes deixa um pouco a desejar. Samuel L. Jackson e Ed Harris revelam a resolução da história com o olhar. Luis Guzmán é irritante o suficiente para tornar a sua personagem credível.
E, se a realização de Renny Harlin - um realizador de filmes de terror - passa quase despercebida, exceptuando o trabalho com os tais olhares que revelam o final do enredo, o destaque vai para a escrita de Matthew Aldrich… um ilustre desconhecido, quem, antes deste filme, conta apenas com um entrada no IMDB como actor em “My Sweet Suicide” (1999)!!! O guião é muito consistente e muito coerente. Salvo alguns clichés – como o cheirar do perfume da esposa morta ou a vigilância irreflectida de Cutter à viúva Norcut – parece um exercício com pés e cabeça. Custa a acreditar que seja a primeira experiência do autor…
Classificação:
***
segunda-feira, 12 de outubro de 2009
Os Informadores (The Informers)
Imagino que Ellis escreva bons livros, no entanto, o cinema tem outra estrutura. Seguir quase uma dezena de personagens à deriva (a cada cena surge uma referência a outra personagem!), sem perceber muito bem o que é que é importante e qual a informação que pode ser esquecida, torna a película, no mínimo, estranha. Claro que tudo faz sentido quando chegamos ao fim, fim. Mas o “AH!” final não chega para que o espectador saia do cinema com uma sensação de plenitude. E, neste caso, o “AH!” final até foi plantado ao longo da história, mas é tão absolutamente óbvio nos tempos que correm que nenhum espectador quer acreditar que o filme “é sobre” aquilo. Fica uma garantia: uma vez por ano é possível que este filme passe na TV em comemoração de uma efeméride que, infelizmente, continua a fazer sentido…
Com um elenco de peso, o filme prometia mais. Kim Basinger, Winona Ryder, Billy Bob Thornton, Jon Foster e Mickey Rourke partilham o ecrã numa história que, provavelmente, eles conheceram de perto. Mas o destaque vai obrigatoriamente para Brad Renfro (o puto de “O Cliente”!) e Amber Heard. O primeiro porque era um dos jovens actores mais promissores de Hollywood e teve neste filme a sua derradeira interpretação (morreu em Janeiro de 2008 com uma overdose acidental de heroína). A segunda porque tem o papel central da história (se não o principal) e, além de ser lindíssima (característica sempre importante quando se fala em actores de Hollywood), tem aqui uma prestação irrepreensível.
Mas, mesmo com todas estas estrelas e jovens fabulosos, o filme só se recomenda a quem quer viajar sem saber para onde… ou então a quem quer ver umas boas cenas eróticas no grande ecrã… Ah! E merece um prémio quem conseguir explicar porque é que ele se chama “Os Informadores”. Procura-se uma explicação convincente (e provavelmente metafísica) para que o nome da digressão de uma das personagens seja usado para o filme inteiro...
Classificação:
**
quinta-feira, 8 de outubro de 2009
Pânico em Hollywood (What Just Happened)
“Pânico em Hollywood” é o retrato da vida stressante de um produtor de cinema em Hollywood. De segunda a Sexta-feira, o espectador acompanha “um dos 30 produtores mais poderosos de Hollywood”, Ben (Robert De Niro), enquanto ele tenta resolver três questões paralelas e pertinentes: convencer o realizador a alterar o horrível final do filme “Fiercely”, com Sean Penn, que é suposto estrear em Cannes mas que teve resultados horríveis no test screening em LA; convencer Bruce Willis, estrela do próximo filme, a rapar uma farta barba e a perder uns quilos antes do início das filmagens, para que volte a parecer-se com “a estrela de cinema” que o estúdio “comprou”; e reconquistar a última ex-mulher, de quem está separado há ano e meio.
A ideia de mostrar as vicissitudes daquela profissão é interessante, já que poucos apaixonados pelo cinema percebem qual é exactamente o papel de um produtor em Hollywood, além de gerir fundos (é, por isso, um filme algo didáctico). No entanto, com a câmara sempre enfiada na cara de De Niro, cuja personagem é discreta e contida, o filme, apesar de retratar muitas situações stressantes, acaba por tornar-se monótono e sem ritmo. Além disso, o guião, mais preocupado em dar um retrato fiel do dia a dia de “um deles”, falha em decidir a qual das três histórias deve dar destaque, acabando por deixar o espectador um pouco perdido sobre qual é, afinal, o verdadeiro desafio da personagem. Ou seja, em vez de ficarmos com a sensação de que estamos a acompanhar um período conturbado da vida de Ben (e um filme é isso: uma personagem que tem de superar um desafio crítico e invulgar!), parece que aquilo que estamos a ver é o habitual em Hollywood, e portanto, não há razão para grandes dramas, já que ele aparece sempre contido e com um aparente controlo da situação. Há sempre uma saída. Há sempre algo a “descansar” o espectador… o que torna os 105 minutos de filme demasiado longos. O filme falha redondamente no ritmo e na manutenção da tensão. Desconfio até que nunca teria sido considerado interessante e nunca teria sido produzido se não se tratasse de uma história que retrata Hollywood...
A nota mais positiva vai para Sean Penn, Bruce Willis, John Turturro e Katherine Keener, já que De Niro, em vez de um Hollywood producer cheio de garra, aparece como um Hollywood producer velho e cansado. Até pode ser que, neste caso, tenha sido uma opção do realizador, mas a dúvida permanece: É mesmo característica da personagem? Ou é de De Niro? É que aquele registo começa a ser familiar no actor… É pena.
Classificação:
**
terça-feira, 6 de outubro de 2009
Fama (Fame)
O preço da Fama é bem elevado em qualquer parte do mundo, mas em Nova York esse preço começa a ser pago bem cedo e em gotas de suor!! "Fama" segue um grupo de talentosos dançarinos, cantores, actores e artistas durante quatro anos na escola New York City High School of Performing Arts, onde, através de um variado e criativo conjunto de actividades, é oferecida aos estudantes de todos os níveis sociais a oportunidade de viverem os seus sonhos e alcançarem a verdadeira e duradoura fama... aquela que se consegue apenas com talento, dedicação e trabalho árduo. Esta é também uma escola onde os alunos de Teatro, Dança e e Música coabitam num clima de competição mas ao mesmo tempo de cumplicidade. Nesta incrível atmosfera competitiva, atormentados por dúvidas interiores, a paixão de cada estudante vai ser posta em causa. Para além dos seus objectivos artísticos, eles terão de lidar com as questões normais da escola secundária, uma fase tumultuosa cheia de trabalhos da escola, amizades intensas, o despertar das paixões e a auto-descoberta. À medida que cada aluno luta pelo seu momento de glória, eles irão descobrir quem, entre eles, tem talento inato e a disciplina necessária para ser bem sucedido. Com o amor e a ajuda dos amigos e colegas artistas, eles descobrirão quem alcançará a fama.
Classificação:
terça-feira, 22 de setembro de 2009
Para a Minha Irmã (My Sisters Keeper)
Anna é uma pré-adolescente feliz. Nascida no seio de uma família aparentemente funcional, ela adora a irmã mais velha, Kate, com quem partilha brincadeiras e segredos. Anna é um produto da engenharia genética e nasceu para salvar a irmã, vítima de leucemia desde menina. Com 11 anos, ela enfrenta a possibilidade de abdicar de um rim para o dar a Kate que entrou em falha renal. Mas o drama em que a família vive há anos vai agravar-se porque, desta vez, Anna vai recusar ajudar a irmã. Para isso, contrata um famoso advogado e pede a emancipação médica dos pais, para que possa passar a decidir sobre o seu corpo.
A premissa é, em si, um “murro no estômago”, por isso, quem for ver este filme tem de ir preparado para um drama a sério.
Nick Cassavetes (co-autor do guião e realizador) não se centra – e muito bem – na história de tribunal. O que ele pretende é explorar os sentimentos contraditórios de quem é forçado a viver quase exclusivamente para cuidar de alguém. Filma rotinas, tratamentos, brincadeiras e escapes de forma hábil e delicada. Filam uma família aparentemente feliz, cujos sentimentos – ou ressentimentos – se vão colocando em segundo plano para se dedicar totalmente a tornar a vida de uma só pessoa mais feliz. E, ao colocar Anna no centro da história, não evita - nem quer evitar - que seja Kate a sua grande estrela.
As interpretações, nesta película, são arrepiantes. Aos seis actores “principais”- Abigail Breslin (aqui a fazer de Anna, ela foi a filha de Mel Gibson em “Signs” e acumulou um CV verdadeiramente impressionante desde aí!), Sofia Vassilieva (estrela da série “Medium”, aqui a dar vida à doce e forte Kate), Cameron Diaz (talvez no seu melhor papel, a de uma mãe lutadora), Jason Patric (um pai preocupado), Evan Ellingson (o irmão invisível), Alec Baldwin (o advogado de causas) -, que merecem um aplauso de pé, acrescento Heather Wahlquist, a tia sensata, Joan Cusack, a juíza sofredora (que talvez tenha exagerado numa ou noutra cena, ou talvez o que devia ter ficado na sala de montagem… não ficou…), e o lindíssimo (o adjectivo aplica-se ao actor, sim, mas principalmente à personagem) Thomas Dekker, aqui a viver na pele do grande amor de Kate. Um elenco de luxo a julgar pelo resultado final.
Com um história apaixonante, actores extraordinários e um realizador bastante sensível, o filme perde por ser previsível em alguns acontecimentos e até no desfecho. Mas isso não é razão para não ir ao cinema levar o tal “murro no estômago”...
Classificação:
****
segunda-feira, 21 de setembro de 2009
Taking Woodstock (Taking Woodstock)
O novo filme de Ang Lee é um bio-pic. Quem acha que vai ao cinema ver exactamente como foi feito o mais mítico festival de música de sempre vai um bocadinho enganado.
De acordo com a sinopse da Lusomundo, esta “é a história de Elliot Tiber, um aspirante a designer de interiores que se debate com a sua homossexualidade escondida e dependência de drogas durante o mais famoso festival musical dos anos 60.” Mas esta visão também é um pouco redutora. A verdade é que foi Elliot Tiber o responsável pela realização do festival nas quintas de White Lake, NY, onde, em 1969, se juntou meio milhão de pessoas a celebrar a liberdade. Ou seja, a história é a da personagem, mas em fundo está sempre a fabulosa organização do Woodstock. E, se o trailer dava a entender que a organização ia ter um papel de maior destaque, no filme a preferência vai para os pormenores da personagem em detrimento dos pormenores do festival.
Ora, Elliot Tiber (desempenhado pelo escritor e comediante Demetri Martin, com um currículo praticamente inexistente como actor) volta a casa dos pais, depois de ter tentado um futuro como designer de interiores e pintor em Nova Iorque, para tentar salvar o El Monaco, um hotel que podia ser um resort se não estivesse completamente decadente. A hipoteca está novamente em atraso e o jovem inventa festivais e eventos para trazer clientes ao local. Desta vez, consegue atrair a produção do maior festival de sempre…
A nova obra de Ang Lee leva-nos directamente a uma época em que a liberdade existia de facto. É essa a sensação ao sair do cinema é essa. As normas sociais eram as da boa educação e do respeito pelo próximo e, portanto, a nudez, a sexualidade, as drogas, o álcool (…) eram geridos por cada um em comunhão, se possível, com aqueles que os rodeavam ou não faziam, de todo, sentido. Não havia obrigações sociais rígidas ou falsas vergonhas e Woodstock foi o expoente máximo dessa forma de estar na vida.
Numa das cenas, um polícia, que jurava ter ido a White Lake para “dar umas boas bastonadas nuns hippies”, rende-se ao espírito peace and love e leva, por fim, uma flor no capacete, enquanto responde às saudações com um sinal da Paz e oferece boleia ao protagonista para o levar – segundo o terno travesti Vilma (Liev Schreiber), responsável pela segurança do El Monaco enquanto a festa durar – “ao centro do Universo”. Até os pais do protagonista – duas raposas velhas e caquécticas (e duas memoráveis interpretações de Imelda Staunton e Henry Goodman, a dela, em particular, digna de Óscar!) - encontram novos motivos para viver ao empenharem-se na realização de um evento que tinha tudo para os ofender.
O filme é simples, terno e sem qualquer pretensão de nos dar lições e de nos levar a fazer juízos de valor. Conta a extraordinária história de uma personagem que não teria ficado para a história se não fosse um mero acaso da vida. Mas é nos acasos da vida que todas as personagens de Woodstock parecem confiar e é neles que contam para construir uma vida… ou um festival. Afinal, diz outra personagem, “é a perspectiva que não nos deixa viver. A perspectiva mata o amor!”.
Classificação:
****
domingo, 13 de setembro de 2009
Para lá da Fronteira (Crossing over)
Este é um filme que põe a nú todos os preconceitos criados pela América Pós guerra(s). No fundo, talvez Portugal também precisa-se de um filme sobre o SEF (de certeza que teria histórias de imigração igualmente interessantes). O que estás disposto a fazer pelo sucesso da carreira ou apenas por uma qualidade de vida melhor é talvez o Busílis deste filme. Até que ponto te prostituis, trabalhas que nem escravo ou levas até ao fim os teus ideais religiosas só para pertenceres a um país com mais oportunidades?
Assalto ao metro 1 2 3 (The Taking of Pelham 1 2 3)
Quem teve a opotunidade de ver o filme "speed" facilmente encontrará agumas semelhanças com este filme de acção (infelizmente não tem a Sandra Bullok). O "average man" torna-se herói por um dia, dando-nos a ideia que muitas das vezes somos o que as circustâncias permitem (para o bem e para o mal).
Em "Assalto ao Metro 123", Denzel Washington é Walter Garber, um funcionário do Metro de New York, cuja vida irá ser afectada devido ao sequestro de um metro. John Travolta é Ryder, o autor do crime, que, como líder de uma gangue de 4 pessoas altamente armadas, ameaça executar os passageiros que estão na carruagem, a não ser que o resgate seja pago dentro de uma hora. Com a tensão a aumentar, Garber utiliza seu vasto conhecimento do sistema de Metro para despistar Ryder e salvar os reféns. Mas há um enigma que Garber não consegue resolver: mesmo que os ladrões recebam o dinheiro, como podem eventualmente escapar...
É sem dúvida um bom filme de acção mas a formula já tem décadas... De salientar o trabalho de Travolta e Denzel que quase fizeram do filme mais do que ele efectivamente é...um "action movie".
Classificação:
***
terça-feira, 8 de setembro de 2009
As Minhas Adoráveis Ex-Namoradas (Ghosts of Girlfriends Past)
Matthew McConaughey é Ebenezer Scrooge… Perdão! Matthew McConaughey é Connor Mead, um fotógrafo famoso cujo único objectivo na vida é levar mulheres para a cama. Quando o irmão, Paul, o convida para ao seu casamento, Connor vai determinado a “salvá-lo da forca” a todo o custo… Mas, na noite antes da cerimónia, Connor é visitado por três fantasmas – os das namoradas do passado, do presente e do futuro – que lhe mostram porque é que ele se tornou (nas palavras do primeiro fantasma) “um ser insensível, idiota e incapaz de ter sentimentos”, na esperança de o transformar no homem sensível, terno e honesto que ele foi um dia para que ele possa encontra o verdadeiro amor.
Esta é mais um filme hollywoodesco cheio de banalidades, cuja estrutura é uma colagem assumida do conto de Charles Dickens, A Christmas Carol, escrito em 1843. E, como na obra de Dickens sobre Ebenezer Scrooge, ela funciona perfeitamente, conseguindo na totalidade justificar os comportamentos da personagem e transmitir os seus sentimentos cambiantes.
Claro que, conhecendo o fim de Ebenezer, adivinhamos o desfecho de Connor (embora a alegoria de um seja acerca de dinheiro e do outro sobre o amor, as conclusão são semelhantes). Ou seja, não há surpresa NENHUMA neste filme e, não fosse pela exímia exploração hollywoodesca de sentimentos que nos são comuns a todos (o amor e o medo dele) e pelo desempenho de actores - Matthew McConaughey, Jennifer Garner e Michael Douglas –, que deviam estar a fazer filmes dignos de Óscars em vez de ganharem dinheiro fácil, esta película não mereceria, talvez, o trabalho de escrever uma crítica...
Classificação:
**
sexta-feira, 28 de agosto de 2009
Sacanas Sem Lei (Inglorious Basterds)
É difícil escrever sobre um filme assim. Há tanto, tanto a dizer e tão pouco que valha a pena colocar por palavras, por medo que o espectador leve alguma expectativa para o cinema. É melhor que não leve. Não vale a pena dar-se ao trabalho. Tarantino baralha todas as cartas que lhe conhecemos e dá um showzaço de cinema. “É habitual”, dirão alguns fãs da irreverência do autor. Mas não é habitual sairmos do cinema com um sentimento de TOTAL satisfação.
Vamos ver... A história é irreverente Q.B e verídica Q.B para nos interessar desde início. (Atenção ao “Q.B.”! É muito importante este “Q.B”, especialmente à medida que nos aproximamos do final!) O realizador é quem é… portanto, dá-nos cenas longas mas incrivelmente bem estruturadas, muito, muito sangue e total confiança nos actores. Os actores… Bom, os actores são… sei lá… há algum adjectivo mais elogioso do que SOBERBOS?!!
Quem é Christoph Waltz??? E porque é que Hollywood ainda não o tinha descoberto?! O público MERECE-O num cinema de massas! No filme, a fazer de “Caçador de Judeus”, o austríaco (a fazer de austríaco!) fala QUATRO línguas com um sotaque quase limpo e dá um baile de representação. Sublime!
Dianne Kruger? É em Dianne Kruger (alemã, a fazer de alemã!) que cai a responsabilidade de co-star de Brad Pitt? Sem dúvida que ela é extraordinária, mas é Mélanie Laurent (francesa, a fazer de francesa) que carrega a história do filme e o leva até ao fim!
E Brad Pitt (americano, a fazer de americano!)... Bom, já sabemos que ele é bonito demais para ganhar um Óscar, mas Hollywood tem mesmo de tirar a venda dos olhos e começar a pensar em mudar esse hábito. Mais uma vez, o actor transforma-se (e é difícil uma mega-estrela transformar-se perante os olhos do público, que nunca se esquece de quem ele é!) numa espécie de cromo americano, duro e experiente, e partilha com (o incrível! Ele é MESMO incrível neste papel!) Christoph Waltz aquela que é a cena mais hilariante do filme ao tentar falar italiano. A não perder.
...Tarantino é louco. E isso nota-se em cada filme que faz. Os que temiam que ele não soubesse domar a loucura que lhe deu fama ou que a perdesse com o sucesso obtido, podem descansar: cada vez ele está mais “falhado” e isso é cada vez melhor de se ver. Aqui leva a loucura ao extremo e deixa quem lhe deu o Óscar por “Pulp Fiction” num aperto. Se Pulp Fiction era o melhor que ele podia fazer no que diz a um argumento (ganhou “Best Writing, Screenplay Written Directly for the Screen” em 1995 e originou um culto), o que lhe vão dar desta vez? TUDO?!
…É o mínimo.
Classificação:
*****
quinta-feira, 27 de agosto de 2009
Inimigos públicos (Public Enemies)
Finalmente Johnny Deep teve o desafio de desempenhar um filme biográfico com uma personagem sem grandes artifícios (demasiado real tendo em conta o historial do actor). Talvez esteja a começar a treinar para os Óscares mas defenitivamente ainda não é desta...
A sinopse é bem intrigante e leva-nos a pensar que são mais de duas horas sem parar mas "desengane-se". Ninguém conseguia parar Dillinger e o seu gang. Nenhuma prisão o conseguia deter. As suas encantadoras e audazes fugas fazem com que o povo se apaixone por ele numa altura em os americanos que não tinham qualquer simpatia pelos bancos que tinham feito cair o país numa depressão. Mas enquanto as aventuras do gang de Dillinger, incluindo posteriormente o sociopata Baby Face Nelson e Alvin Karpis, maravilhavam tudo e todos, o Presidente Hoover tinha intenção de capturar Dillinger de forma a elevar o seu Centro de Investigação à condição de policia nacional. Tornando Dillinger "Inimigo Público Número Um" atribui a Purvis, um impetuoso agente conhecido como "Clark Gable do FBI", a missão de capturar o mais famoso gangster da América. Contudo, Dillinger e o seu gang conspiravam e venciam Purvis em perseguições e tiroteios selvagens. Só depois de chamar uma equipa dos agora intitulados agentes do ocidente da América e orquestrando traições épicas - da vergonhosa "Mulher de Vermelho" ao chefe do crime de Chicago Frank Nitti, é que Purvis, o FBI e a sua nova equipa de pistoleiros serão capazes de se aproximar de Dillinger.
O filme conta também com momentos em que o próprio Dillinger entra no departamento que o investiga (meio vazio pois todos o procuram) e passeia pelos arquivos da sua investigação ou até mesmo no cinema onde os anúncios aos criminosos mais procurados eram uma constante (em que pediam às pessoas para olhar para a direita e para a esquerda pois ele podia estar na sua fila), Dillinger nunca era identificado...
Classificação:
terça-feira, 25 de agosto de 2009
O ABC da sedução (The Ugly Truth)
Abby Richter é uma romântica produtora de um programa de TV, solteira e neurótica, a quem a busca pelo Príncipe Encantado tem deixado solteira. As audiências do programa estão a descer e o patrão de Abby contrata Mike Chadway, o polémico apresentador da rubrica “The Ugly Truth”, onde Mike explica a sua versão misógina das relações homem-mulher. Apesar das diferenças de personalidade e por imperativo das audiências, os dois são obrigados a entrar num consenso, ao ponto de Mike ajudar Abby a conquistar o Sr. Perfeito.
Os conselhos de “empina as mamas, aumenta os decotes, usa uns saltos, ri-te sempre das piadas dele e nunca o critiques” resultam. Abby conquista Colin, o vizinho, médico e escultural, para pouco depois se aperceber de que ele se apaixonou por uma versão falsa de quem ela é.
E quem é que ama a verdadeira Abby, digam lá…?
O filme é totalmente baseado nos clichés cinematográficos do “homem magoado que conhece mulher romântica mas independente que por acaso é escultural mas não o sabe e que o vai salvar transformando-o no ideal feminino de homem perfeito”. Nada de novo portanto. Os protagonistas desta americanada - óptima para comer pipocas na época estival - são lindos de morrer e dão uns toques como actores, ou seja, basta não se envergonharem para ficarem fantásticos no ecrã. E ficam.
A este factor positivo, juntam-se duas ou três piadas bem conseguidas, sendo a melhor (sem dúvida!) aquela em que Abby decide vestir umas cuecas vibratórias antes de um encontro e acaba sentada num restaurante a fazer a apresentação de uma ideia aos chefes do canal para o qual trabalha enquanto o comando das ditas – ligado - está na mão de um miúdo traquina… Uma espécie de cena à “When Harry Met Sally” dos tempos modernos. Aqui, pontuação máxima para Katherine Heigl, cujo CV (onde consta a série “Grey’s Anatomy” ou “Anatomia de Grey”) não impressiona ninguém.
Fica a curiosidade para ver estes dois (ou até três) actores daqui para a frente. Deixam a impressão de poder fazer mais e melhor… Mas, sendo uma conclusão tirada ao ver um filme cheio de clichés baratos e truques fáceis pode revelar-se um equívoco…
Uma última nota para uma aparição fugaz de Kevin Connolly, o fantástico Eric da série “Entourage” (ou “A Vedeta”), que continua a passar pelo grande ecrã como se não quisesse ficar por lá…
Classificação:
**
A Proposta (The Proposal)
“A Proposta” é a película que, no primeiro fim-de-semana de exibição nos Estados Unidos, bateu todos os records de audiência. Porquê? Será que Sandra Bullock tem aqui um papel para ganhar um Óscar? Será que a história é o supra-sumos do drama? Serão a realização e elenco dignos de memória...? Não. Sandra Bullock aparece nua pela primeira vez na tela. Esse será, aparentemente, o único motivo para o sucesso de bilheteira que foi este filme.
A actriz, conhecedora dos jogos da profissão, já adiantou que se isso garante sucesso na venda de bilhetes, vai despir-se até aos 70 anos, quando estiver toda enrugadinha. …Percebe-se a resposta. A verdade é que, de tudo o que se pode observar na tela durante aqueles 109 minutos, a única coisa digna de nota verdadeiramente positiva é o desempenho da actriz, que começa a merecer papéis mais exigentes. (Vá, pronto. Talvez valha a pena referir também a participação sempre doce da Golden Girl Betty White. Uma avó adorável... Sempre no registo que lhe conhecemos.)
Ora, esta é, supostamente, uma história de amor. A sinopse diz que “quando a poderosa editora Margaret se vê na iminência se ser deportada para o Canadá, o seu país de origem, a hábil executiva decide e declara que está noiva do seu insuspeito assistente Andrew. Ele, forçado, concorda participar na farsa mas impõe algumas condições. O improvável casal dirige-se para o Alaska para conhecer a excêntrica família de Andrew e a dominadora rapariga de cidade, depara-se com sucessivas situações hilariantes em que se sente como um peixe fora de água. Com um casamento de fachada em curso e um funcionário do controlo de imigração no seu encalço, Margaret e Andrew prometem relutantemente cingir-se ao plano apesar das desastrosas consequências”.
Normalmente, é nestas circunstâncias que o amor acontece. E esta história não foge à regra… No entanto, ao contrário do que o guião nos quer fazer acreditar, Margaret não se apaixona por Andrew, e sim pela família dele, pela cidade natal dele, pelo contexto em que ele foi criado e que lhe faltou a ela. Até porque, na verdade, não chegamos a conhecer Andrew… nem a mãe, nem o pai, nem qualquer das personagens secundárias – pobres! - que colocaram na história apenas para criar gags que nos fazem rir… com Sandra Bullock!
Um aplauso, por isso, a Sandra, que faz rir a até chorar, que, em suma, faz o filme. E o resto é paisagem. E, excluindo as imagens do Alaska, é uma paisagem POBRE!
Classificação:
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segunda-feira, 3 de agosto de 2009
Harry Potter e o príncipe Misterioso (Harry Potter and the Half-Blood Prince)
No entanto, nos últimos filmes (já fora da época natalícia, se bem me lembro), a acção era tão intensa e com tantas referências aos acontecimentos passados, que todos os que não eram fãs da saga ou que, como eu, não têm o hábito de alugar os DVDs do filme anterior antes de ir ver o seguinte ficavam um pouco defraudados com o espectáculo. Mesmo que as personagens e os efeitos especiais continuassem marcantes, o respeito pelo espectador era muito pouco, já que o deixava duas horas a tentar adivinhar o que se teria passado no “episódio” anterior e a amaldiçoar a memória que não consegue guardar recordações de outras duas horas de entretenimento fútil acontecidas DOIS ANOS antes…
Neste filme tudo muda. A acção é ao ritmo da terceira idade (fácil de acompanhar, portanto!) e a história envolvente e praticamente sem referências ao passado, ou antes, quem conhece o passado das personagens entende as suas motivações mais profundas, mas quem não conhece consegue apreendê-las sem dificuldade. Até aqui, tudo bem. Um aplauso para o novo filme do Harry Potter… Ou talvez um aplauso para J.K.Rowling. É que ela deve ter escrito imensas coisas fantásticas, coisas que foram, de certeza, filmadas, mas que, como há que limitar o tempo de filme ao suportável, a equipa decidiu cortar na sala de montagem! Só assim se explica alguns “saltos” demasiado evidentes na acção, que deixam questões por responder… Por onde e porquê viajou Dumbledore? Porque morreu a tarântula de Hagrid e em que é que isso é importante para a história? De onde surgiu a caverna descoberta por Dumbledore? Ninguém sabe… Ou sabe, talvez, quem leu o livro… Talvez a equipa que nos presenteia com os filmes do Harry Portter tenha descoberto o verdadeiro cinema interactivo… O espectador leva trabalho para casa: ler um livro! Tenho esperança de que, para os seguidores da série em filme, as respostas a estas perguntas surjam daqui a dois anos no próximo filme. Seguindo as fórmulas anteriores, ainda vêm a tempo… Tal como a explicitação climática da razão do título do filme (que me parece muito mal traduzido para português, ou então estou a ver significados onde eles não existem...).
Sem querer revelar o final, o filme termina com a morte de uma personagem muito querida. Mas quando as luzes se acendem, os espectadores ficam um pouco confusos: é suposto acabar assim? A sério? ISTO era o (Sexto? Sétimo? Décimo nono? Eu podia googlar isto, mas a minha intenção é mesmo desafiar o leitor a lembrar-se…) filme do Harry Potter? Têm a certeza que não ficou a meio? A resposta é: não, não ficou. O próximo é que vai ficar a meio, porque o livro – “Harry Potter and the Deathly Hallows” – vai ser dividido em dois: “Harry Potter and the Deathly Hallows Part I” e “Harry Potter and the Deathly Hallows Part II”. …Mal posso esperar…
Classificação:
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