quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Nas nuvens (Up in the air)

Clooney e a actulidade parte 1000000... o desemprego...

É incrível como Clooney se mantém na crista da crítica cinematográfica no que diz respeito à actualidade. É ainda uma incógnita como deixou o Sean Penn ficar com a homossexualidade (Milk). No entanto, tem sido sempre um tiro ao lado e desta vez não é excepção. Apesar de ter um guião interessante, embora delirante, este filme não é "oscar material". No entanto, todos os extras do filme fazem um trabalho soberbo quando encarnam a situação de serem "dispensados".
A sinopse conta: "Ryan habituou-se a um estilo de vida livre por entre aeroportos, hotéis e carros de aluguer. Consegue levar tudo o que necessita no seu pequeno trolley; é membro VIP de todos os programas de fidelização que existem; e está prestes a atingir o seu objectivo de vida: 10 milhões de milhas, como cliente regular – e porém… Ryan não tem na vida a que se possa agarrar. Quando se apaixona por uma companheira de viagem, o seu patrão, inspirado por uma ambiciosa jovem perita em eficiência, ameaça limitá-lo ao escritório, longe das constantes viagens. Deparando-se com a perspectiva, simultaneamente aterradora e excitante de ter de deixar de voar, Ryan começa a vislumbrar o verdadeiro significado de ter um lar…"
É um filme a não perder embora não seja o melhor de Clooney, nem por sombras o melhor que tivemos este ano.

Classificação:
****

Estrela Cintilante (Bright Star)

O tédio em versoEste é talvez um dos filmes de época mais "parados" da história. A sinopse conta: "Londres, 1818: uma relação amorosa secreta tem início entre o poeta inglês de 23 anos, John Keats, e a vizinha do lado, Fanny Brawne, uma jovem e sincera estudante de moda. A relação entre este estranho e improvável par até começou mal. Ele achava-a um pouco insolente, ela não se deixava impressionar muito com literatura em geral. Foi a doença do irmão mais novo de Keats que os juntou. Keats ficou sensibilizado com os esforços de Fanny para os ajudar e propôs-lhe ensinar-lhe poesia."
Há vários aspectos incompreensíveis neste filme. Um deles é, pois claro, o aspecto musical. Porquê Mozart (um compositor clássico) quando o filme é sobre o início do romantismo (1918). Ainda para mais, no ano em que o "poeta do piano" comemora os seus 200 anos (Chopin) torna ainda mais imbecil a escolha deste compositor... Como é possível tornar um filme com um conteúdo tão interessante naquele tédio insuportável...A única cena que salva o filme é sem dúvida o poema final que, aí sim, Abbie Cornish deixa-nos colados à cadeira (mais ainda), com uma interpretação que lhe podia valer uma nomeação para um Óscar, não fosse o resto sofrível...

Classificação:
**

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Nove (Nine)

O melhor elenco do ano (ou será de sempre...?)

O realizador Guido Contini (Daniel Day-Lewis) - personagem inspirada em Frederico Felinni antes da realização da sua obra-prima, o filme “8 ½” (apesar do cinesasta ser casado e supostamente feliz) - enfrenta uma crise de inspiração de enormes proporções. Conhecido como “Maestro”, o mundo espera ansiosamente o seu próximo filme que, mentindo, ele apelidou de “Itália”. Sem ter escrito uma palavra do guião e com a imprensa atrás dele, Guido procura consolo nas mulheres: a sua mulher (Marion Cotillard), a amante (Penélope Cruz), a musa do seu filme (Nicole Kidman), a sua confidente (Judi Dench), uma jornalista americana (Kate Hudson), uma prostituta (Stacy Ferguson, a Fergie dos Black Eyed Peas) e a sua mãe (Sophia Loren).
Deste lote de nomes, apenas Fergie (que é cantora) e Kate Hdson nunca ganharam um Óscar (embora esta última tenha sido nomeada por “Almost Famous” - “Quase Famosos). Era MUITO difícil Rob Marshall fazer um mau filme com um elenco destes e um guião testado num palco da Broadway. Mas também é verdade que podia ter feito melhor...
Depois de “Chicago” é difícil aceitar os mesmos truques e as mesmas soluções para os números musicais. Apesar de em “Nine” o cenário desses números ser quase sempre uma enorme e deslumbrante estrutura que seria o cenário do filme “Itália”, construído na Cinecità, em Roma, o facto de se passar artificialmente das ruas da Cidade Eterna para aquele estúdio atafulhado e claustrofóbico fica aquém das expectativas. E, apesar de não ser demasiado óbvio, notava-se que as canções foram claramente gravadas em estúdio e nem sempre expressavam o esforço ou o cansaço ou emoção das personagens no momento da acção. Não teve o brilho e a surpresa do seu oscarizado filme de 2002 e as comparações são inevitáveis…
Por isso, o melhor do filme foram sem dúvida os actores. De Daniel Day-Lewis e Judi Dench ninguém esperava menos do que aquilo que fizeram. Ele, principalmente, tem o dom inacreditável de ser uma pessoa diferente em cada personagem, o que, mesmo entre actores, não é para todos. E, em “Nine” foi um italiano criativo e atormentado, sem sombra para dúvidas ou críticas.
Marion Cotillard e Penélope Cruz surpreendem como interpretes, bailarinas e mulheres incrivelmente sensuais. Belas e seguras, merecem um aplauso de pé pelo trabalho e pela inegável sensualidade. Maravilhosas. Já Nicole Kidman, apesar de habilmente transformada numa pin up irresistível, não teve o carisma esperado, desiludindo um pouco com uma performance baça e pouco marcante no seu número musical.
A Sophia Loren e a Fergie não era exigido muito. À primeira, a sua forte presença e história e, à segunda, uma canção com uma coreografia e algumas cenas mudas. A primeira fez o possível. A segunda deixou uma boa impressão nesta sua nova incursão pelo cinema.
Kate Hudson – a tal que nunca ganhou um Óscar – conseguiu, no entanto, superá-las a todas com um soberbo número musical que acabou por ser aproveitado para os créditos finais antes da interpretação da – cantora! - Fergie que também passa durante “as letrinhas”. “Cinema Italiano” foi o cantado e dançado com tal competência, sensualidade e certeza que faz o espectador questionar-se sobre a razão que leva Kate a não enveredar pelo mundo da música! Ela – sozinha - conseguiu transmitir o brilho e a surpresa que todo o filme devia ter. Foi, sem dúvida, a melhor parte desta obra de Rob Marshall.
As críticas, no entanto, não devem impedir o espectador de – quanto mais não seja - ver este conjunto de belíssimas mulheres em papéis que lhes são pouco habituais e em que deixam transparecer, em geral, as grandes – enormes - artistas que são.

Classificação:
****

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Ouviste falar dos Morgans? (Did You Hear About The Morgans?)

Banalidades, banalidades, banalidades…

Hugh Grant a fazer de inglês atrapalhado e Sarah Jessica Parker no papel de uma Carrie Bradshaw casada. Hum… Pode ser acolhedor. Pode fazer o espectador sentir-se em casa, já que o reconhecimento é imediato. E a química entre os dois actores (e as duas personagens) funciona ás mil maravilhas, ao ponto de ser inacreditável que seja a primeira vez que contracenam juntos… Será que dá para construir um clássico…?
Meryl (Sarah Jessica Parker) e Paul Morgan (Hugh Grant) formam um casal nova-iorquino desavindo que, ao testemunhar um crime, entra para o programa de protecção de testemunhas do Governo. A sua nova localização é uma pequena cidade rural do Wyoming, onde eles não encaixam, mas onde vão ter de decidir se querem continuar juntos ou optar pelo divórcio.
Marc Lawrence - realizador de “Music & Lyrics” e “Two Weeks Notice” (ambos com Hugh Grant) e escritor do famosíssimo “Miss Congeniality” (“Miss Detective” em português) -, que escreve e realiza esta obra, tinha, então, tudo para conseguir um blockbuster: duas mega estrelas, duas personagens reconhecidas pelo público em qualquer filme (o tal inglês atrapalhado e a tal nova-iorquina empedernida), um guião obviamente bem estruturado, com algumas piadas oportunas e outras tantas cenas em que se valoriza o conceito de família, e a – não menos importante - aposta do estúdio em publicidade. Usou tudo com objectividade e cuidado. Misturou racionalmente. …E serviu um pratinho requentado e a cheirar a mofo…
Porquê?
O problema reside exactamente na repetição das fórmulas (fórmulas, fórmulas!). A ideia do “peixe fora de água” (“fish ou of water style comedy”) já foi usada milhões de vezes - e até da mesma forma: citadino asfixia no campo - com mais inteligência e arte (como em “Crocodile Dundee”, por exemplo). E aquelas personagens – percebemos agora! - estão demasiado gastas.
As caras de um Grant assarapantado e os chiliques de Parker por estar fora de Manhattan já renderam o que tinham a render e ou eles – os dois! - começam a escolher os guiões com cuidado ou arriscam-se a não ter carreira daqui a cinco anos!!! O público está cansado das personagens que eles fazem over and over and over again. São SEMPRE as mesmas, sem nuances sequer! Não só é MUITO chato de ver, como é absolutamente desapontante para quem esperava mais destas duas grandes estrelas.
Mesmo com a inegável habilidade de Lawrence para escrever guiãozinhos competentes - daqueles que não marcam, mas que agradam a toda a família por serem mero entretenimento inofensivo, cheios de evocações reconhecíveis e acolhedoras e com as cenas maximizadas exactamente como mandam os manuais de guionismo –, o exercício, desta vez, saiu-lhe “ao lado” por ter – finalmente! - demasiados clichés estilísticos e personagens e situações - não reconhecíveis, mas - absolutamente batidas, gastas, mortas!
Já basta, caríssimos! O público já não engole estas pastilhas e diz que gosta! Vamos lá a tratar as audiências com um pouco mais de respeito, sim?

Classificação:
**

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

2 Amas de Gravata (Old Dogs)

Rir, os valores da família, blá,blá,blá... já não há paciência...

Mais um filme de catarse emocional para John Travolta. Este foi também dedicado ao seu filho que faleceu recentemente. Se no Metro 1 2 3 a ideia era a de canalizar a sua revolta para a personagem, neste encontramos uma clara alusão ao valor da família que agora e mais do que nunca deverá estar a sentir na pele o actor. A sinopse é simples: "A história de dois grandes amigos, um azarado, divorciado e apaixonado (Robin Williams) e o outro um solteirão convicto (John Travolta). Ambos vêem as suas vidas viradas do avesso quando precisam de tomar conta de um par de gémeos de 6 anos, enquanto fecham o maior negócio das suas vidas profissionais."
De salientar o regresso de Robin Williams - que não nos faz saltar da cadeira de tanto rir, mas é sempre bom vê-lo no activo. Ainda assim confesso que já não há paciência para ver filmes de silly season, muito menos na véspera dos Óscares... mas pronto, é um filme da Disney, o que é que se há-de fazer...?
Classificação:
**

Ágora (Agora)

A História viva!

Uma sinopse que poderia traduzir-se num enorme bocejo de filme acabou por se revelar uma interessante viagem aos início do cristianismo, bem como aos desafios que a natureza criava aos filósofos da altura. A sinopse traduz-se no seguinte:
"Século IV. No Egipto, sob o poder do Império Romano, violentos confrontos sociais e religiosos invadem as ruas de Alexandria… Presa entre paredes, sem poder sair da lendária livraria da cidade, a brilhante astrónoma, Hypatia, com a ajuda dos seus discípulos, faz tudo para salvar os documentos da sabedoria do Antigo Mundo… Entre os discípulos, encontram-se dois homens que disputam o seu coração: o inteligente e privilegiado Orestes e o jovem Davus, escravo de Hypatia, dividido entre o amor secreto que nutre por ela e a liberdade que poderá ter ao juntar-se à imparável vaga de Cristãos. "
O filme apresenta soluções brilhantes no que diz respeito às várias teorias sobre suposto início do heliocentrismo que na altura era a mais profunda das heresias. É sem dúvida ciência e história vivida de forma bastante apelativa e que nos põe a pensar não só na condição dos filósofos da altura, cuja função era questionar tudo, não tomando nada por garantido. Assim esta disputa pela verdade cósmica gera uma óbvia contestação religiosa, onde Hypatia (uma das poucas mulheres com algum poder na altura) dá a cara ao confronto, mantendo a sua filosofia de pé: "questionar o mundo através da sua sabedoria". Interessante também é a forma como é explicada a difusão do Cristianismo e o que motivava as pessoas a seguir essa religião. No fundo, as pessoas estavam com que lhes dava pão para comer, o que hoje em dia é prática cada vez menos "exclusiva" (que nunca o foi) da Religião Católica.
Sem dúvida um filme a não perder e, quem sabe, com uma possível nomeação para Óscar de melhor actriz através de Rachel Weisz que fez um papel estrondoso.
A minha classificação reflecte o facto de este ser um género de filme que faz falta à sociedade.

Classificação:
*****