quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Capitalismo: Uma História de Amor (Capitalism: A Love Story)

A problemática da cenoura à frente dos olhos

“Quando eu era pequeno, lembro-me que o meu pai trabalhava na General Motors, pagou a casa em que vivíamos antes de eu ir para o infantário, fazia 4 semanas de férias pagas por ano e, ano sim, ano não, passávamos o Verão em Nova Iorque. Se aquilo era o capitalismo, eu adorava-o.” E entretanto tudo mudou. Os salários baixaram. As pessoas viram-se obrigadas a trabalhar o dobro para compensar os funcionários que os patrões não contratavam. O desemprego aumentou. E alguém encorajou o povo americano a pedir dinheiro emprestado para fazer face a tudo o que não podiam pagar. Até que tudo se desmoronou.
Michael Moore, no seu inconfundível estilo provocatório, manipulador e cheio de conspirações, explora de forma hábil os motivos que levaram à crise do capitalismo na América. Desde a época de Reagen até à eleição de Obama, o cineasta esmiúça acções e decisões de políticos e seus conselheiros, os lucros das grandes empresas e alguns casos emblemáticos em que o povo foi esmagado pela América corporativa (como o caso chocante dos pilotos de aviões que ganham menos ao ano do que um funcionário do MacDonald’s!!!), construindo uma história simplista, de heróis e vilões, em que não faltam temas de reflexão. Um assunto que podia ser complexo e incompreensível, torna-se fácil de acompanhar e – se o espectador estiver ciente de que está a ver um filme de Moore - permite até decidir sobre a sua concordância ou não com as conclusões do realizador. Embora não seja fácil não ver as coisas como Moore as apresenta, já que a manipulação e as cenas sensacionalistas e infrutíferas (como ir com um carro blindado a Wall Street pedir o “dinheiro dos contribuintes americanos de volta” ou envolver a dita na famosa fita amarela “Crime Scene Do Not Cross”) são uma constante nos seus filmes.
Perdoado o estilo próprio, há que admitir que Moore consegue colocar nas bocas do mundo todos os temas em que toca e consegue levar “o povo” a pensar seriamente sobre eles. Este filme é mais um exemplo acabado disso mesmo. E embora não seja uma obra prima (talvez porque já nos tenhamos cansado um pouco do sensacionalismo de Moore ou porque, narrativamente, o documentário não apresenta nenhuma inovação), tem o mérito de explorar um assunto que há muito merece ser discutido… ou não andemos todos a tentar imitar o modelo de vida americano (agora decadente).
“Nós aguentámos tudo isto porque nos acenavam com a cenoura à frente dos olhos: um dia será tu a vencer.” Mas à medida que o fosso entre os ricos e os pobres ia aumentando, a crença nesta promessa ia desaparecendo. Até que o povo se revoltou: elegeu Obama (um socialista?). O povo percebeu que tinha poder e nada será como dantes. A conclusão do cineasta é que acredita na democracia: recusa-se a viver num país como aquele, mas não se irá embora...

Classificação:
***