segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Taking Woodstock (Taking Woodstock)

Hino à liberdade

O novo filme de Ang Lee é um bio-pic. Quem acha que vai ao cinema ver exactamente como foi feito o mais mítico festival de música de sempre vai um bocadinho enganado.
De acordo com a sinopse da Lusomundo, esta “é a história de Elliot Tiber, um aspirante a designer de interiores que se debate com a sua homossexualidade escondida e dependência de drogas durante o mais famoso festival musical dos anos 60.” Mas esta visão também é um pouco redutora. A verdade é que foi Elliot Tiber o responsável pela realização do festival nas quintas de White Lake, NY, onde, em 1969, se juntou meio milhão de pessoas a celebrar a liberdade. Ou seja, a história é a da personagem, mas em fundo está sempre a fabulosa organização do Woodstock. E, se o trailer dava a entender que a organização ia ter um papel de maior destaque, no filme a preferência vai para os pormenores da personagem em detrimento dos pormenores do festival.
Ora, Elliot Tiber (desempenhado pelo escritor e comediante Demetri Martin, com um currículo praticamente inexistente como actor) volta a casa dos pais, depois de ter tentado um futuro como designer de interiores e pintor em Nova Iorque, para tentar salvar o El Monaco, um hotel que podia ser um resort se não estivesse completamente decadente. A hipoteca está novamente em atraso e o jovem inventa festivais e eventos para trazer clientes ao local. Desta vez, consegue atrair a produção do maior festival de sempre…
A nova obra de Ang Lee leva-nos directamente a uma época em que a liberdade existia de facto. É essa a sensação ao sair do cinema é essa. As normas sociais eram as da boa educação e do respeito pelo próximo e, portanto, a nudez, a sexualidade, as drogas, o álcool (…) eram geridos por cada um em comunhão, se possível, com aqueles que os rodeavam ou não faziam, de todo, sentido. Não havia obrigações sociais rígidas ou falsas vergonhas e Woodstock foi o expoente máximo dessa forma de estar na vida.
Numa das cenas, um polícia, que jurava ter ido a White Lake para “dar umas boas bastonadas nuns hippies”, rende-se ao espírito peace and love e leva, por fim, uma flor no capacete, enquanto responde às saudações com um sinal da Paz e oferece boleia ao protagonista para o levar – segundo o terno travesti Vilma (Liev Schreiber), responsável pela segurança do El Monaco enquanto a festa durar – “ao centro do Universo”. Até os pais do protagonista – duas raposas velhas e caquécticas (e duas memoráveis interpretações de Imelda Staunton e Henry Goodman, a dela, em particular, digna de Óscar!) - encontram novos motivos para viver ao empenharem-se na realização de um evento que tinha tudo para os ofender.
O filme é simples, terno e sem qualquer pretensão de nos dar lições e de nos levar a fazer juízos de valor. Conta a extraordinária história de uma personagem que não teria ficado para a história se não fosse um mero acaso da vida. Mas é nos acasos da vida que todas as personagens de Woodstock parecem confiar e é neles que contam para construir uma vida… ou um festival. Afinal, diz outra personagem, “é a perspectiva que não nos deixa viver. A perspectiva mata o amor!”.

Classificação:
****