Um oásis no meio do deserto
“Aventura / Comédia” é o “rótulo” do filme. A sinopse divulgada no site da Lusomundo é deslavada e errónea. O cartaz é leve, antiquado e pouco marcante. O realizador conta no currículo com apenas outros dois filmes pouco badalados… Não fossem os nomes de Adrien Brody (“O Pianista”), Rachel Weisz (“O Fiel jardineiro”) e Mark Ruffalo (“Ensaio sobre a Cegueira”) no elenco, este filme teria passado completamente despercebido do grande público.
E seria uma pena.
São 113 deliciosos minutos de cinema. É a “pedrada no charco” de um ano cinematográfico que prometia muito e deu muito pouco.
Os Bloom - Adrien Brody e Mark Ruffalo – são dois irmãos que, de lar de acolhimento em lar de acolhimento, foram aprendendo a depender apenas um do outro e encontraram uma vocação peculiar: são os melhores burlões do mundo. Penelope (Rachel Weisz) é uma jovem riquíssima e inadaptada socialmente que vai ser alvo da última burla dos dois irmãos. Mas nem tudo corre como planeado…
O guião é quase perfeito e cheio de informação visual que, muitas vezes, supera – em dados sobre as personagens e em espectacularidade - a que passa nos diálogos. Ficou a faltar, talvez, a explanação de uma conversa entre Penelope e a polícia polaca, que deixa o espectador na dúvida sobre qual a intenção do autor.
Os actores são absolutamente fabulosos e irrepreensíveis, ou não fossem dois deles vencedores de Óscares (Rachel Weisz por “O Fiel jardineiro” e Adrien Brody por “O Pianista”) e outro já nomeado para um prémio por esta actuação (Mark Ruffalo foi nomeado em 2008 como “Best Actor in a Motion Picture, Comedy or Musical” para um Satellite Award). E a extraordinária Rinko Kikuchi! Quase sem currículo em Hollywood, ela foi nomeada para um Óscar de “Best Performance by an Actress in a Supporting Role” em “Babel”. Aqui surge quase muda, mas inesquecível no papel de Bang Bang, a bombista e perita em efeitos especiais dos irmãos Bloom! As bizarras aparições de Bang Bang são o melhor do filme, só encontrando rival nas desgrenhadas (mas lindas) cenas de Rachel Wiesz.
Tudo, neste filme, é diferente da onda de cinema que invade as salas da Lusomundo todos os dias, a começar na beleza pouco estereotipada das duas fantásticas mulheres e a terminar no conjunto vasto de pequenos pormenores que enriquecem a cena e que obrigam o espectador a estar atento a todas as nuances de linguagem e às acções não declaradas das personagens.
A acção vai New Jersey a Praga (maravilhosa Praga!) e de Praga ao México, sem que o espectador consiga datar acessórios ou personagens. As roupas são clássicas. Os cenários actuais. Os carros vão do clássico ao actual. A mistura é caótica, explosiva e resulta fenomenalmente, exceptuando o look de pirata de Maximilian Schel (outro Óscar winner!) no papel de malandro russo.
O ideal seria ver este filme umas duas ou três vezes para ter a certeza que estava tudo visto e absorvido, já que há inúmeros pequenos pormenores acessórios que merecem ser decifrados com carinho e que tornam a obra inesquecível. Com todas as suas (pequenas) falhas, este não deixa de ser um filme com F (muito) grande.
Classificação:
*****