sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Nove (Nine)

O melhor elenco do ano (ou será de sempre...?)

O realizador Guido Contini (Daniel Day-Lewis) - personagem inspirada em Frederico Felinni antes da realização da sua obra-prima, o filme “8 ½” (apesar do cinesasta ser casado e supostamente feliz) - enfrenta uma crise de inspiração de enormes proporções. Conhecido como “Maestro”, o mundo espera ansiosamente o seu próximo filme que, mentindo, ele apelidou de “Itália”. Sem ter escrito uma palavra do guião e com a imprensa atrás dele, Guido procura consolo nas mulheres: a sua mulher (Marion Cotillard), a amante (Penélope Cruz), a musa do seu filme (Nicole Kidman), a sua confidente (Judi Dench), uma jornalista americana (Kate Hudson), uma prostituta (Stacy Ferguson, a Fergie dos Black Eyed Peas) e a sua mãe (Sophia Loren).
Deste lote de nomes, apenas Fergie (que é cantora) e Kate Hdson nunca ganharam um Óscar (embora esta última tenha sido nomeada por “Almost Famous” - “Quase Famosos). Era MUITO difícil Rob Marshall fazer um mau filme com um elenco destes e um guião testado num palco da Broadway. Mas também é verdade que podia ter feito melhor...
Depois de “Chicago” é difícil aceitar os mesmos truques e as mesmas soluções para os números musicais. Apesar de em “Nine” o cenário desses números ser quase sempre uma enorme e deslumbrante estrutura que seria o cenário do filme “Itália”, construído na Cinecità, em Roma, o facto de se passar artificialmente das ruas da Cidade Eterna para aquele estúdio atafulhado e claustrofóbico fica aquém das expectativas. E, apesar de não ser demasiado óbvio, notava-se que as canções foram claramente gravadas em estúdio e nem sempre expressavam o esforço ou o cansaço ou emoção das personagens no momento da acção. Não teve o brilho e a surpresa do seu oscarizado filme de 2002 e as comparações são inevitáveis…
Por isso, o melhor do filme foram sem dúvida os actores. De Daniel Day-Lewis e Judi Dench ninguém esperava menos do que aquilo que fizeram. Ele, principalmente, tem o dom inacreditável de ser uma pessoa diferente em cada personagem, o que, mesmo entre actores, não é para todos. E, em “Nine” foi um italiano criativo e atormentado, sem sombra para dúvidas ou críticas.
Marion Cotillard e Penélope Cruz surpreendem como interpretes, bailarinas e mulheres incrivelmente sensuais. Belas e seguras, merecem um aplauso de pé pelo trabalho e pela inegável sensualidade. Maravilhosas. Já Nicole Kidman, apesar de habilmente transformada numa pin up irresistível, não teve o carisma esperado, desiludindo um pouco com uma performance baça e pouco marcante no seu número musical.
A Sophia Loren e a Fergie não era exigido muito. À primeira, a sua forte presença e história e, à segunda, uma canção com uma coreografia e algumas cenas mudas. A primeira fez o possível. A segunda deixou uma boa impressão nesta sua nova incursão pelo cinema.
Kate Hudson – a tal que nunca ganhou um Óscar – conseguiu, no entanto, superá-las a todas com um soberbo número musical que acabou por ser aproveitado para os créditos finais antes da interpretação da – cantora! - Fergie que também passa durante “as letrinhas”. “Cinema Italiano” foi o cantado e dançado com tal competência, sensualidade e certeza que faz o espectador questionar-se sobre a razão que leva Kate a não enveredar pelo mundo da música! Ela – sozinha - conseguiu transmitir o brilho e a surpresa que todo o filme devia ter. Foi, sem dúvida, a melhor parte desta obra de Rob Marshall.
As críticas, no entanto, não devem impedir o espectador de – quanto mais não seja - ver este conjunto de belíssimas mulheres em papéis que lhes são pouco habituais e em que deixam transparecer, em geral, as grandes – enormes - artistas que são.

Classificação:
****