domingo, 22 de agosto de 2010

A Origem (Inception)

A heist movie with a twist...

“É um filme fantástico!”“Esse é muito bom.” “Vai ver esse que vais gostar.” Foi a ouvir frases destas que eu decidi comprar bilhete para ir ver o último filme de DiCaprio. Não é que precisasse de incentivo – ele faz bons filmes e, desta vez, unia-se a Christopher Nolan, responsável pelo fantástico “Cavaleiro das Trevas” –, mas há muito tempo que não ouvia tal unanimidade entra o público leigo e a crítica.
Quando entrei na sala escura, esperava ser desafiada intelectualmente e ver uma obra nada menos do que brilhante. É possível que o seja, mas mistura alguns dos estilos que eu menos aprecio: a ficção científica com o filme de assalto. É verdade que faz a fusão de forma brilhante, desafiante e que, no meu ponto de vista, acaba por melhorar os dois géneros, mas não vim deslumbrada, porque achei que a premissa, a exposição das intenções, é muito mais interessante do que a posterior simplicidade do enredo. Mas pode ser apenas uma questão de gosto…
Ora, Leo DiCaprio (o tal que começou a ser nomeado para o Óscar de melhor actor aos 20 anos, mas nunca ganhou nenhum por ser bonito demais) é Dom Cobb, um talentoso ladrão, “o melhor na arte da extracção: ele rouba segredos e ideias às pessoas directamente das profundezas das suas mentes, durante os sonhos – estado em que a nossa mente está mais vulnerável. A rara habilidade de Cobb fez dele uma das pessoas mais influentes neste novo mundo de espionagem empresarial, mas também fez dele um fugitivo internacional e custou-lhe tudo o que já amara. Mas agora foi-lhe oferecida uma oportunidade para se redimir. Um último trabalho pode devolver-lhe a sua antiga vida. Em vez do assalto perfeito, Cobb e a sua equipa de especialistas têm exactamente de fazer o inverso: instalar uma ideia na mente de alguém”, diz a sinopse da Lusomundo.
A premissa é óptima, mas o enredo é banal. Esperava, sinceramente, mais. Querem uma prova de banalidade? A personagem principal é um ser torturado cujo sucesso da missão que tem em mãos determinará também o sucesso da resolução do seu conflito interior… No fundo, é um heist movie with a twist - em vez de roubarem algo, vão colocar algo na mente de alguém, mas nem por isso deixa de haver metáforas sonhadas de fortes inexpugnáveis, prisões e perseguições, tiros e fugas em countdown. A única personagem redonda é Cobb, todas as outras são bonecos sem passado nem futuro. E a história de Cobb torna-se repetitiva e até previsível. O ritmo, no entanto, é excelente, bem como a exploração do banal enredo, que se torna interessante por ocorrer na mente humana e no mundo dos sonhos, o que dá azo a grandes desafios de lógica e de gravidade, o que, por sua vez, permite / exige extraordinários efeitos especiais. E eles existem.
Não há nada a apontar à produção, nem às interpretações dos actores, embora se olhe com estranheza para o facto de terem escolhido a jovem (jovem, jovem!) Ellen Page como a arquitecta de sonhos, o génio do filme. Talvez a personagem exigisse alguém mais “experiente” para ser credível...
No geral, é um filme que vale a pena ir ver, mas sem o preconceito de achar que vai ser absolutamente extraordinário, já que o público tem tendência a dizer isso sobre tudo aquilo que tem dificuldades em perceber na totalidade, como a relatividade da lógica dos sonhos e as fórmulas matemáticas em que assentam os labirintos da mente… É possível que se torne um filme de culto, como “Matrix”, exactamente pela premissa que apresenta. Não me admiraria nada que aparecessem a partir de agora mais filmes a usarem como base da história o campo dos sonhos e o assalto às ideias durante o sono. É esperar para ver…


Classificação:
****