sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Contraluz (Backlight)

Os acasos da vida

Este filme é sobre os acasos da vida… E foi, talvez, por acaso que fiquei a saber da morte de António Feio - o actor que deu a cara para defender a obra de Fernando Fragata e que tantas vezes vi no magnífico trailer do filme - exactamente no momento em que regressava a casa depois de ver a fita no cinema. Um acaso do qual não me vou esquecer jamais. António Feio transformou-se numa lenda, não só devido à “enorme” carreira que teve, mas também devido à lição de vida que deu a todos nós pela forma como enfrentou o pior pesadelo possível. “Aproveitem a vida e ajudem-se uns aos outros, apreciem cada momento, agradeçam e não deixem nada por dizer, nada por fazer. Esta uma das fortes mensagens deste filme”, diz na intervenção que antecede o trailer. Sim, vamos todos tentar seguir o teu exemplo. Eu, pelo menos, prometo fazê-lo.
Mas comecemos “pelo princípio”… O próprio trailer. Não vou discorrer sobre a mensagem de António Feio, que nos arrepia a todos e está tudo dito. Mas o próprio trailer. O texto que o introduz. Joaquim de Almeida ajoelhado no deserto. O carro. O GPS. A voz que o chama. BRUTAL! O melhor que já vi. Dá lições. Tirem notas, porque é assim que se faz! Bravo!
Quanto ao filme, a sinopse é mais vaga que o trailer, mas ao contrário do anterior, não suscita interesse nenhum. Aqui fica, copiada do site da Lusomundo: “Várias pessoas sem ligação entre si estão em situações de extremo desespero quando algo inesperado acontece que irá mudar radicalmente o rumo das suas vidas. Caberá a cada um moldar o seu destino de modo a reencontrar a felicidade. Mas há destinos que só se alcançam depois de alterar o dos outros.” Fraquinha. O filme é mais do que isto.
O filme começa com um Joaquim de Almeida amargurado, numa personagem sombria, a quem morreu a esposa. O espectador testemunha o renascer desta personagem naquela que é a passagem mais desinteressante do filme. Com um contexto demasiado longo, é um trecho com pouco ritmo. É de propósito, eu sei, a personagem está sem ritmo e o espectador sente-o… infelizmente durante demasiado tempo… Mas o actor entrega o que lhe pedem, sem dúvida, e a “história da personagem termina onde a obra começa a suscitar verdadeiro interesse.
A partir daí é puro entretenimento, sempre com mais questões para responder, sempre com ritmo, sempre em crescendo. Digo “entretenimento” da melhor maneira possível (no sentido do fascínio que suscita no espectador, que deixa de olhar para o relógio e fica disponível para se deixar levar), sem que por isso a obra deixe de colocar muitas questões ao espectador, muitas “dicas” para pensar quando deitar a cabeça no travesseiro.
Notei um erro de anotação quando uma mochila vermelha suja é supostamente a mesma que aparece na cena (cronologicamente) seguinte já limpinha… Mas isso não chega para manchar a óptima obra de Fernando Fragata.
Uma nota final para Evelina Pereira. Nunca a tinha visto no papel de actriz. Não era uma personagem muito exigente, mas também não há qualquer reparo a fazer, além do facto de a câmara a adorar. Esteve bem e fica lindíssima dentro do camião.
Em resumo: mais um passo em frente para o cinema português.
…Mas, já agora… ADORAVA ver o dia anterior… da abelha… ;-)

Classificação:
****