domingo, 24 de outubro de 2010

Embargo

Humanidade nas quatro rodas

“Nuno é um homem que trabalha numa roulotte de bifanas, mas que inventou uma máquina que promete revolucionar a indústria do calçado - um digitalizador de pés. No meio de um embargo petrolífero e deparando-se com uma estranha dificuldade, Nuno tenta obstinadamente vender a máquina, obcecado por um sucesso que o fará descurar algumas das coisas essenciais da sua vida. Quando Nuno fica estranhamente enclausurado no seu próprio carro e perde uma oportunidade única de finalmente produzir o seu invento, vê subitamente a sua vida embargada…”, diz a sinopse.
Saramago escreveu esta belíssima metáfora (sobre a humanidade que, se pudesse, ia de carro à casa de banho), António Ferreira (Esquece Tudo O Que Te Disse, 2002) filmou-a respeitando a luz sombria do autor da história, Coimbra serviu de cenário (embora discretamente e sem qualquer referência directa) e Cláudia Carvalho (lindíssima e talentosa) e Eloy Monteiro (muito convincente no papel tresloucado de Nuno) dão vida aos papéis principais com competência e seriedade. Fernando Taborda e José Raposo são irrepreensíveis. E o jovem Miguel Lança poderá ser um óptimo actor quando deixar de acusar o peso da responsabilidade de estar a contracenar com figuras consagradas.
O principal desafio do filme para o espectador é tentar adivinhar em que época é que a história ocorre, já que os carros são da década de 80, mas há telemóveis enormes (anos 90) e euros (anos 2000). De resto, é uma história de Saramago. Ou seja: óptima metáfora, história tresloucada e porca e nula conclusão.

Classificação:
***