O começo da lenda
Começando pelas versões de Errol Flynn (“As Aventuras de Robin Hood”, de 1938) e Kevin Coster (“Robin Hood: Príncipe dos Ladrões”, de 1991), passando pelo filme de animação da Disney (“Robin Hood”, de 1973) e pela irresistível paródia de Mel Brooks (“Robin Hood: Men in Tights”, de 1993) e terminando nas saudosas séries de TV que povoaram a minha infância e adolescência (“Robin of Sherwood”, de 1984 a 1986, e “The New Adventures of Robin Hood”, de 1998) , eu devo ser especialista nesta que é – além do MacGyver – a minha personagem favorita. Eu “papei” quase tudo o que foi produzido para os meios audiovisuais sobre este herói, até tive um trauma com um Robin Hood louro que não se googla em lado nenhum! E, mesmo sabendo que a BBC está a emitir uma nova série sobre o fora-da-lei de Sherwood, acreditei – sinceramente! - que sobre Robin Hood estava tudo dito. Enganei-me.
Ridley Scott decidiu apresentar o início da lenda (começa a ser tradição em Hollywood apresentar o início de todas as lendas…) num filme mais realista do que os anteriores no que diz respeito às características da Inglaterra do século XII, ou seja, este Robin é - fruto das circunstâncias - mais “feio, porco e mau”, sem deixar de lado os valores e a (kind of) doçura que todos reconhecemos ao grande herói.
Ao longo dos anos foram “milhões” as variações na possível história de Robin. Ridley Scott apresenta mais uma hipótese - na verdade não muito surpreendente, mas verosímil – da sua história. Robin era um arqueiro em campanha com Ricardo Coração de Leão. Depois da morte do rei em batalha, ele regressa a Inglaterra fugido e o seu caminho cruza-se - em rota de colisão – com D. João, irmão de Ricardo e novo rei, uma personagenzinha eternamente pérfida e fraca. Pelo caminho finge ser Robert of Loxley, com a bênção do pai do verdadeiro Robert of Loxley, enquanto se apaixona por Lady Marion, que é, neste filme, uma mulher forte e segura de si.
É uma obra mais dura, com excelentes actores (além de Russell Crowe e Cate Blanchett, há que destacar Mark Strong e William Hurt, o primeiro no seu habitual registo de mauzão, o segundo irreconhecível) e excelente realização, que perde com a utilização de alguns clichés desnecessários - como a seta que mutila o antagonista no início do filme - e que fazem o espectador assíduo de cinema revirar os olhos em descrédito.
No geral, é óptimo entretenimento. E mantém intacta a imagem da lenda… para o bem e para o mal…
Classificação:
****